A dor, a cor…

Era por volta de 1850, Século XIX. O médico norte-americano James Marion Sims inicia mais um de seus experimentos. A cobaia é trazida até ele que, tendo tudo previamente preparado, começa seus estudos.

Enviado por Darlete Gomes Nascimento  via Guest Post para o Portal Geledés

Tem em suas mãos um maravilhoso instrumento: ela possui os órgãos que necessita para investigar, cortar, pinçar, observar…

Apesar de já descoberta, o uso da anestesia foi descartado pelo Dr. Sims. Decidiu que não era necessário aliviar a dor, pois seria mais proveitoso, para suas pesquisas, que sua cobaia sentisse cada etapa de sua incisão cirúrgica. E, por mais de quatro anos, várias cobaias foram operadas, sem o uso de anestesia, ou qualquer assepsia mínima, por aquele que, posteriormente, seria considerado o “pai da ginecologia”.

Mulheres pretas, escravizadas. Essas foram as “cobaias” do Dr. James Marion Sims.

Se é possível medir a dor, pode-se afirmar que a sofrida por aquelas mulheres chegou ao ápice do imaginável. Sua carne sendo cortada; seu sangue, derramado; seus órgãos, violentados… E cada sensação sendo percebida em seu ponto máximo, em seu apogeu.

Século XXI. Estudos apontam que mulheres pretas, em diferentes atos cirúrgicos, incluindo o momento do parto cesárea, recebem dose menor de anestesia do que as mulheres brancas, alegando-se que elas, as pretas, são “mais fortes” e, por isso, “aguentam” mais a dor.

As diversas facetas da violência contra mulheres pretas são apontadas em dados estatísticos; entretanto, podemos percebê-las pelo simples olhar. Ao não ver-se representada nas diferentes propagandas de produtos de seu uso diário; ao ver-se em posição de subserviente da branca ou objeto sexual do branco;

Ao perceber que a enfermidade que a acomete, própria de sua etnia, não tem tratamento específico nos serviços de saúde; ao ser convidada para subir os andares do prédio pelo elevador de serviço; ao ver seu trabalho, de igual ou superior qualidade em comparação ao que é realizado pela branca, receber remuneração inferior; ao assumir a absoluta maioria dentre as mulheres que sofrem violência doméstica, das mais diferentes formas… Essas são as distintas faces de uma mesma realidade: a vil e cruel violência contra mulheres pretas.

Sou preta, sou mulher,

Sou filha de luta, sou filha da dor.

Remeto às minhas entranhas,

Ao âmago de meu ser,

No auge de minha loucura,

O delírio consciente

De que trago em meu corpo

Na epiderme da alma,

A glória da cor!

+ sobre o tema

Médica luta há 30 anos contra mutilações genitais em meninos na África do Sul

Mesmo sendo criticada e ameaçada, a médica Mamisa Chabula-Nxiweni,...

Denúncias de LGBTfobia aumentam, e zona leste tem mais casos em São Paulo

A zona leste de São Paulo concentra a maior quantidade de...

para lembrar

Campeã mundial, Rafaela Silva fica com o bronze no Pan de Toronto

Rafaela Silva é uma das atletas mais consistentes da...

Médicas Pretas

Hoje, dia 18 de Outubro é comemorado o Dia...

Selo dos Correios celebra Luiza Bairros, ex-ministra e ativista negra

Os Correios e o Ministério da Igualdade Racial lançam nesta terça-feira (17) um...

O impacto trazido pela primeira juíza negra no Supremo dos EUA

A discussão sobre qual será a indicação do presidente...
spot_imgspot_img

Sueli Carneiro analisa as raízes do racismo estrutural em aula aberta na FEA-USP

Na tarde da última quarta-feira (18), a Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP) foi palco de uma...

O combate ao racismo e o papel das mulheres negras

No dia 21 de março de 1960, cerca de 20 mil pessoas negras se encontraram no bairro de Sharpeville, em Joanesburgo, África do Sul,...

Ativistas do mundo participam do Lançamento do Comitê Global da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver

As mulheres negras do Brasil estão se organizando e fortalecendo alianças internacionais para a realização da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem...
-+=