Negras lutam por visibilidade e igualdade no cinema

Vinte e cinco de julho é o Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha. Para marcar a data está sendo realizado em Brasília o Festival Latinidades, que neste ano tem como tema o Cinema Negro.

Por Ana Lúcia Caldas, do Agência Brasil

A coordenadora de ações formativas, Bruna Pereira, diz que a idéia é valorizar a produção cultural negra.

Sonora: ”Até para desvincular a imagem do homem e da mulher negra da escravidão e do sofrimento. Então a gente procura dar visibilidade para produção cultural, inclusive como forma de combate ao racismo.”

Segundo o estudo “A Cara do Cinema Nacional”, as negras apareceram em menos de dois a cada dez longas-metragens entre os anos de 2002 e 2012. No mesmo período nenhum dos filmes nacionais de maior bilheteria teve uma mulher negra na direção ou como roteirista. Atrizes negras e pardas são apenas 4,4% do elenco principal.

A pesquisa foi produzida pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. A pesquisadora Verônica Toste comenta o estudo.

Sonora: “Muito embora a gente tenha a impressão que as mulheres negras estão adentrando esses espaços, quando a gente vê isso a partir de uma série histórica, pelo menos a última década, a gente vê que houve flutuações muito tímidas em torno dos mesmos percentuais.”

A doutora em cinema e professora da Universidade Federal de Goiás, Rosa Maria Berardo, a mulher negra no cinema representa uma demonstração da própria história.

Sonora:  “A mulher negra no cinema ela vem se representar uma a partir dessa tomada de consciência, a partir dessa luta importante que nós temos no Brasil dos grupos que trabalham a cultura afro, e as mulheres começam a poder contar sua própria história.”

A cineasta Larissae Fulana de Tal dirige o curta-metragem Cinzas. Ela é realizadora no coletivo de cineastas negros Tela Preta e fala das dificuldades.

Sonora:  “ Você assumir o lugar de direção também lhe dá uma nova problemática porque parece que ali não é o seu lugar. Tem uma fala de Racionais que serve muito para a mulher negra: “preto tem que provar que é duas vezes melhor”. Isso é uma cobrança muito grande. Por que tem que provar? Eu sinto isso muito dentro do processo de realização de cinema.”

Erika Cândido, diretora de produção do Kbela , um curta-metragem feito por mulheres negras, conta que a ausência de negros no cinema é visível.

Sonora: “Já teve equipes que eu trabalhei que eu era a única mulher negra. A gente tem tentado fazer com que isso seja diferente com iniciativas como o Kbela, enfim, a gente tem tentado fazer com que a mulher tenha uma representatividade maior e a mulher negra tenha um respeito e uma representatividade maior também.”

Segundo Fulana de Tal, o mundo virtual tem sido aliado para aumentar a presença das mulheres negras no cinema.

Sonora: “A geração que eu participo são muitas mulheres, a gente tem construído uma rede,  através do Facebook, das midias alternativas, muito fantástica, no sentido de “olha, te conheço, estou vendo você, eu também estou aqui”.

O trailler de Kbela já foi apresentado no Festival Latinidades e Cinzas vai ser exibido nesta sexta-feira. O evento termina domingo.

O Estatuto da Igualdade Racial prevê que a produção de filmes e programas das emissoras de televisão deve conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos negros.

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