El Anatsui é algo ali no âmbito rigoroso do genial, da arte orgânica e inquestionável, transcendentemente bela, surgida não do nada de uma mente individualista de um artista cheio de si, mas das camadas e mais camadas de saber estético e genético herdado, advindo das mais priscas eras, sabe-se lá de onde, das mais intrínsecas memórias africanas.
El Anatsui é arte em si, encarnada no artista impregnado de tudo e de todos, ali, filtrando intensas visões do paraíso da arte entranhada em alguém, sabe-se lá porque, como um estigma escalavrado na alma de um escolhido, um qualquer eleito e talhado para ser o que tiver de ser, para o enlêvo emocionado da sua tribo, da sua aldeia, do seu mundo. Beleza pura força da natureza, simplesmente assim.
Há sim, aposto com quem quiser, uma quê de Arthur Bispo do Rosário em El Anatsui, mesmo que Bispo do Rosário seja um nome apenas enigmático para o artista ganense que acabei de, emocionadamente conhecer, residente na distante Nsukka, Nigéria.
Junto com o meu fiel parceiro Google traduzi a biografia dele e vi nela, a chave maravilhosa da genialidade deste artista e sua arte inquietante que nos lança perguntas instigantes sobre de onde ela vem e de onde viemos todos nós. Uma arte de questionamentos.
Acho que ela vem da ‘Kanda” (palavra angolana, bakongo, para herança genética) da memória celular, entranhada na ligação intrínseca que todos deveríamos ter com o nosso passado sensível, o cérebro primitivo ali, à flor da pele, os signos imagéticos, musicais, estéticos todos do nosso passado mais remoto – que como se sabe são incabíveis em qualquer religião destas inventadas por aí – o ser africano, o ser humano precursor enfim, fiel à sua alma velhusca e inexplicável, muito mais do que que esta imagem previsível que tentam nos convencer que a nossa alma é.
A alma escultórica de El Anatsui é isto aí, garanto: a alma de nós todos em si mesma grafada, um desenho tridimensional enorme, como um fantasma gigantesco, um manto para um gigante Bispo do Rosário entrar no céu, uma roupa de egungun ou de mukiche,em tela gigante de cinema vazio, a nos assombrar e enlevar sem razão alguma de ser senão…ser.
El Anatsui – biografia
“Nascido em 1944 em Anyako, Gana, El Anatsui mora atualmente em Nsukka, Nigéria.
Um dos escultores mais aclamados na cena internacional, El Anatsuiestudou escultura na Universidade Kwame Nkrumah de Ciência e Tecnologia em Kumasi, Gana (1965-1968). É professor de escultura na Universidade Nsukka da Nigéria desde 1975 onde se tornou um dos principais membros da chamada ‘Escola Nsukka’.
Ao longo destes anos, Anatsui criou inovadoras esculturas de madeira em que se concentrou em temas relativos à história Africana e a experiência colonial, se valendo de marcas feitas por motosserras e chama de oxiacetileno, como metáfora para a destruição de culturas tradicionais africanas pelo colonialismo e suas consequências.
Através de uma experimentação rigorosa e formal de sistemas africanos iconográficos africanos tradicionais, incluindo motivos Uli, sinaisNsibidi, escrituras Bamum, símbolos Adinkra e escrituras Vai, suas esculturas em madeira, como as da série histórica (1993), sugerem uma conexão crítica entre escravidão e colonialismo por um lado, e, do outro, o desaparecimento de registros africanos visuais e textuais, a perda da memória histórica enfim na era do pós-colonialismo.
Mais recentemente, El Anatsui tem usado peças metálicas tipo alumínio, tiras de tampas de garrafa , latas enferrujadas, usadas para fazer raladores de mandioca, velhas chapas de impressão offset, e latas de leite, criando em grande escala, paredes painéis e panos metálicos independentes, com enorme apelo e poder visual. Nestes altamente alusivas construções monumentais (Adinkra Sasa, 2003, Wall Crumbling, 2000), Anatsui transforma materiais do cotidiano, por meio de rigorosos processos artesanais, em que novas ordens de visualidade se excedem, ao ligar as formas de consumo contemporâneo e desejo duradouras com redes globais de comércio e política.
O novo Projeto de Anatsui é um monumental “pano de metal” instalado na fachada colossal de Alte National Galerie. O confronto visual e diálogico entre a escultura, cujo drapeado perceptualmente recusa a entrada no museu e na história encarnada por ele, a declaração assertiva do edifício e seu conteúdo versando sobre arte alemã, sugere interconexões marcantes e carregadas entre o passado e o presente, o eu e seu outro, entre a imaginação colonial e pós-colonial, enfim entre diferentes ordens de subjetividades críticas.”
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Fonte: Blog do Espirito Santo