Na última semana, fomos todos impactados com uma cena que nos fez parar de respirar só de olhar. Um homem negro, assassinado dentro do porta-malas de uma viatura com gás lacrimogêneo foi forte demais para qualquer cidadão desse país assistir e não sentir nada diante daquilo.
Exatamente dois anos depois do caso de George Floyd nos Estados Unidos, que gritou “não consigo respirar” logo antes de ser sufocado pela polícia norte-americana, vimos Genivaldo Santos ser asfixiado pela polícia rodoviária federal de Sergipe.
Mesmo diante dos gritos, das pernas tremendo, das pessoas gritando que iriam matar aquele homem, eles continuaram. Mataram. Mataram de forma brutal, covarde, dolorosa. Nos fizeram perder a respiração e, junto dela, a esperança.
Esperança que nos tem sido negada desde sempre.
Esperança que não vem sendo fortalecida em um país que trata uma grande parte da população de forma dura e aniquiladora. Pelo contrário, um país que desumaniza corpos negros diariamente.
Esperança que todo dia a gente respira fundo e agradece por estarmos vivos hoje, mas com medo de não estarmos mais amanhã.
Que país é esse que suga nossa esperança e nos faz sentir medo de viver?
Enquanto professora, entrar em uma sala de aula depois desta imagem rodar o mundo e olhar para o rosto de inúmeros meninos negros que sonham em dias melhores — mas que não sabem se vão chegar lá — me dilacera a alma.
São mais de vinte pessoas mortas, negras e faveladas, em uma chacina de um lado, um homem torturado até a morte do outro.
Se a gente parar e pensar em coisas que nos assolam diariamente, temos jovens negros que não conseguem empregos ou estão em trabalhos precarizados, jovens negros que são mortos a cada 23 minutos, mães negras que enterram seus filhos, famílias sendo assoladas pela insegurança alimentar e a fome, e tantas outras coisas que não nos deixam dormir, tampouco sonhar.
Não dá para aceitar mais tanta atrocidade e não se compadecer da dor alheia. Simplesmente não dá. Até quando ficaremos sem conseguir respirar?