Fonte:Írohín – Jornal Online
Edson Lopes Cardoso
A questão racial fez um de suas raras aparições na prestigiosa coluna de Jânio de Freitas (Folha de S. Paulo, edição de 16/08/09, p. A8). A eventualidade da candidatura de Marina Silva à presidência da República foi avaliada positivamente pelo colunista, segundo o qual suas possibilidades eleitorais se fortaleceriam em razão do pertencimento racial.
Jânio de Freitas constrói uma espécie de ideologia do mérito, em que se destaca, além do gênero e da temática ambiental, a cor da pele de Marina Silva.
Penso que os limites do reconhecimento de uma identidade étnico-racial de uso ocasional e eleitoral saltam à vista. Por essa visão, as vantagens de uma candidatura negra são avaliadas exclusivamente por sua possível aproximação com a candidatura de Barack Obama nos Estados Unidos.
Parece que o conteúdo da identificação quase se esgota numa semelhança física mais que oportuna, aos olhos de Jânio. Extraídas de seus processos e referências, se tornariam candidaturas irmãs. Jânio de Freitas não se preocupa em apontar vínculos com questões locais relacionadas à subcidadania do segmento negro da população e suas implicações e desdobramentos (exceto pela alusão ao fato de que nos EUA os negros têm renda para fazer generosas doações de campanha). Ao menos por enquanto, a perspectiva de vantagem eleitoral da cor é meramente simbólica.
A alusão aos negros nesses espaços e nessas ocasiões não costuma passar mesmo de vagas referências epidérmicas. Neste caso, apenas sinaliza a viabilidade de se capitalizar o previsível “efeito Obama” com uma bem dosada combinação de sentimentalismo e oportunismo eleitoral, sem maiores conexões existenciais e políticas. Não significa nenhuma ruptura com a interdição da participação do negro no processo político. Ao menos para a política institucional como é concebida hoje no Brasil.
Matéria original: A irmã de Obama