A longa odisseia francesa nas guerras em África

” A odisseia francesa pelo continente africano é muito longa e, entre altos e baixos, a França tem estado umbilicalmente ligada às intervenções armadas nos Estados Africanos. A intervenção começou na Argélia, perante a revolta de Cabilia, cujo saldo se estima em mais de 20 mil mortos argelinos. No ano de 1947 enfrentou mais uma insurreição numa das suas colónias em África, desta vez em Madagáscar. A intervenção da França para manter o seu domínio no arquipélago africano custou a vida a mais de 80 mil malgaxes.

A partir dai, a contestação dos territórios africanos foi aumentando, a solidariedade da revolução árabe foi essencial para o incentivo, uma vez que motivos não faltavam para que os Estados da África subsaariana intensificassem a sua luta contra o domínio colonial. Tendo em conta o drama das duas tentativas anteriores de conter a sublevação dos povos oprimidos de África, a França arquitectou uma imensa e complexa estratégia de neocolonialismo para África, cujas consequências persistem.

No ano de 1956, a França viu-se obrigada a ceder face ao desejo de autodeterminação de Marrocos, Tunísia e Sudão. O Egipto foi o primeiro Estado dentro da revolução árabe a rebelar-se contra a ocupação europeia em África. Alcançou a independência em 1952, na sequência do golpe militar que derrubou o regime do rei Faruk que permitia uma espécie de semi-colonialismo no território. A Argélia só veio a alcançar a sua independência em 1962 depois da Frente Nacional de libertação (FNL) ter liderado uma guerra sem tréguas contra a França, desde 1954. Os franceses foram derrotados. A França aproveitou o facto da maior parte dos Estados africanos terem clivagens internas e regionais muito acentuadas. Os líderes africanos tinham rivalidades internas que ultrapassavam as fronteiras nacionais. Em função dos interesses ou ambições pessoais, era decidido a que grupo a França dava apoio. No contexto das rivalidades internas, os golpes e contra-golpes foram acentuados.
No continente africano surgiram líderes com carisma e determinados a lutar contra a opressão colonial: Mobido Keita, Leopold Senghor, Sekou Touré, Kwame Nkrumah, Julius Nyerere. Gamal Abdel Nasser e Patrice Lubumba eram motivo de preocupação para as potências ocidentais. Essa situação agudizou-se quando foi decidido que as tropas francesas e inglesas tinham que se retirar do Canal Suez. A partir dessa data ficou claro que as mudanças no cenário internacional eram irreversíveis.

A França forjou a estratégia do Grupo de Brazzaville em 1960, liderado por Senghor. Faziam parte do grupo a maioria das ex-colónias francesas. O primeiro Presidente da Costa do Marfim, Félix Houphoet-Boigny, tornou-se num dos principais impulsionadores e defensores desse grupo, cujo principal objectivo era defender uma espécie de semi-independência para os Estados africanos. Defendiam a independência política e uma autonomia económica com limitações na política externa. No ano de 1961, surgiu o Grupo de Casablanca liderado por Nasser, com o objectivo de contrariar o Grupo de Brazzaville.
A presença francesa em África sempre foi efectiva porque, fruto da guerra-fria, os EUA e o Reino Unido cederam a responsabilidade da segurança em África à França. As tropas francesas estão estacionadas no Senegal, na Costa do Marfim, no Gabão, Chade e Djibouti. Embora o número de efectivos tenha diminuído durante a década de 90, com ascensão do Presidente Sarkozy houve um retorno a África.

Os acordos de defesa e segurança são os principais instrumentos que a França utiliza para legitimar as intervenções armadas nas ex-colónias. A França tem acordos com a Mauritânia, Senegal, Mali, Guiné, Costa do Marfim, Togo, Benin, Camarões, Níger, Chade, Burquina Faso, Gabão, RDC, República Popular do Congo, Burundi, Djibouti e Comores.

A intervenção francesa na Costa do Marfim, que levou à queda de Laurent Gbagbo e à prisão pelo TPI, assim como o derrube do regime do Presidente Kadhaffi foram os sinais claros do retorno da França a África depois de uma década e meia de retiro. A intervenção do exército francês que está a decorrer no norte do Mali dá à França a dimensão de potência mundial que sempre almejou. “

 

Fonte: Jornal da Angola

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