A realidade brasileira, entre o hospício e o circo

A política brasileira da razão não tem resquício: se cobrir vira circo, se cercar, vira hospício.

Por , do GGN

O pastor José Serra, que ameaçava os ímpios com o fogo do inferno e entrava na casa dos crentes lendo a Bíblia, de repente veste a roupa do intelectual que deixou de ser e despeja entrevistas ponderadas ambicionando tornar-se a voz da razão.

Aécio Neves que fez fama como conciliador, torna-se um Zeca Diabo da zona sul, atirando em qualquer movimento do governo: respirou, leva tiro.

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Serra foi um governador medíocre, mas tem bom faro para perceber os ventos a opinião pública midiática. Ao lado de FHC deu gás para os rebeldes das redes, mas percebeu a tempo o ridículo de ficar a reboque de Revoltados Online e de Lobão.

Por alguma razão, FHC esquecer de avisar Aécio que prosseguiu como aqueles boxeadores que lutam de cabeça baixa distribuindo murros ao vento.

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Musa inconteste do desenvolvimentismo, Dilma Rousseff torna-se uma crente de carteirinha do monetarismo mais radical e promete que, se houver fé, no final do arco íris do ajuste fiscal haverá o pote de ouro.

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Sob ameaça de prisão, casos e comprovem as acusações da Lava Jato, o presidente do Senado Renan Calheiros enaltece Serra, ameaça Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), deblatera contra o Procurador Geral e torna-se um defensor dos direitos do trabalhador. E manda avisar o governo que não irá parar enquanto não houver garantia de que não será preso pela Lava Jato.

O PT fecha questão em favor do pacote fiscal e dos cortes nos direitos trabalhistas enquanto o PSDB sai do samba de uma nota só do ajuste fiscal e assume a defesa dos trabalhadores.

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Na presidência da Câmara, Eduardo Cunha, dono da maior capivara do parlamento, demite o Diretor do Centro de Informática da Câmara para impedir que vazasse para o Ministério Público a informação de que ele preparou o requerimento que criava problemas para que empresas investigadas pela Lava Jato continuassem a pagar propinas. E alega estar sofrendo uma perseguição pessoal do Procurador Geral.

Segundo o ex-Diretor, não havia vazamentos até então mas a demissão foi para alertar a equipe sobre o que poderia acontecer se algo vazasse.

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No STF (Supremo Tribunal Federal), o garantismo é defendido por Gilmar Mendes – o Ministro que processa qualquer jornalista que ouse criticá-lo – e por seu recém-inseparável companheiro Dias Toffoli, enquanto a linha dura é praticada pelo decano Celso de Mello e pela Ministra Carmen Lúcia.

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Literalmente falando, o país está de pernas para o ar.

Quem passeia pela Esplanada dos Ministérios olha para o Palácio do Planalto, para o Senado, Câmara, para o STF e não enxerga os canais de transmissão de nada.

Em circunstâncias normais, da sede do Executivo sairiam políticas e propostas, passariam pelo crivo do Congresso, não havendo obstáculos na Justiça transitariam para todo o país através de liberações orçamentárias, planos de ação, regulamentos e leis cuja implementação seria fiscalizada pelo Ministério Público.

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É uma longa transição, um vácuo, uma crise que não poupou nenhum poder.

Nos próximos meses, é tratar de juntar os cacos e começar o duro processo de reconstrução da institucionalidade.

O mais importante é que a democracia ficou suficientemente sólida para sobreviver a esse vácuo.

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