A respeito da satanização da política no Dia do Voto Feminino

Hoje, 24 de fevereiro de 2015, no Brasil, celebramos 83 anos da conquista do voto feminino, assegurado parcialmente em 1932, via decreto 21.076 do Código Eleitoral Provisório, pelo presidente Getúlio Vargas: poderiam votar mulheres casadas (com autorização dos maridos), viúvas e solteiras que tivessem renda própria. Em 1934, tais restrições foram suprimidas; todavia as mulheres votariam se quisessem. Em 1946, o voto feminino virou obrigatório.

Por Fátima Oliveira, do O Tempo
Registrei em “Carta da avó: o voto feminino & liberdades democráticas” (O TEMPO, 7.9.2010): “No entanto, em 1928, Mossoró (RN) inscreveu a primeira eleitora: a professora Celina Guimarães; e Lajes (RN) elegeu Alzira Soriano, que entrou para a história como a primeira prefeita do Brasil e da América do Sul!

“Desejo que minhas netas (Luana e Maria Clara) admirem mulheres ‘marrentas’ como as sufragistas Deolinda Daltro, fundadora do Partido Republicano Feminino (1910), a professora Maria Lacerda de Moura, a bióloga Bertha Lutz e muitas outras que fizeram da luta pelos direitos da mulher um norte de vida. A primeira presidente do Brasil é beneficiária direta da doce marrentice delas.

“Na dúvida, leiam os escritos da avó: ‘Nós, mulheres, sabemos que direita e esquerda existem e que a nossa cidadania é incompatível com os interesses da direita’ (‘Os governos nos devem muito’,O TEMPO, 8.3.2000). E ousem entender que ‘votar em candidaturas que sejam contra o direito de decidir é votar contra as mulheres’. E que valorizem ‘o voto com a perspectiva de ampliação da cidadania da mulher, possível em pessoas com história de vida em defesa do Estado laico – que não tem religião, mas respeita todas’ (‘Vamos às urnas!’, O TEMPO, 15.9.2004)”.

Em 2015, há acirramento de uma campanha que visa satanizar a política, ao dizer que todas as pessoas que fazem política são farinha do mesmo saco, a soldo de quem precisa que o povo seja analfabeto político, aquilo que um poeta e dramaturgo alemão, o marxista Bertold Brecht (1898-1956), versejou: “O pior analfabeto é o analfabeto político./ Ele não ouve, não fala nem participa dos acontecimentos políticos./ Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,/ Do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio/ Dependem das decisões políticas… O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política”.

Desde sua origem, política pode ser definida como ciência e arte de governar. O vocábulo “política” (do grego: “politeia”) surgiu quando a Grécia se organizava em cidades-Estado denominadas de “polis”. A política se referia a todos os atos necessários ao bom funcionamento da polis para proporcionar bem-estar à sociedade.

Como cair na vigarice da satanização da política? Ao contrário, inclusive, temos de popularizar a filosofia política – campo da investigação filosófica que trata da política versus relações humanas em seus aspectos coletivos, demonstrando que a política não pode prescindir da arte de negociar e de estabelecer pactos sociais e éticos, pois, conforme o filósofo grego Aristóteles (384 a.C. a 322 a.C.), a política é a ciência mais suprema, à qual as outras ciências estão subordinadas e da qual todas as demais se servem, e tem como objetivo assegurar a felicidade coletiva por meio do estabelecimento da forma de governo mais adequada e de instituições públicas suficientes para tanto.

O povo precisa fazer política para pressionar por pactos sociais e éticos, já que o governo não dá nada a ninguém.

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