Programa
Em um contexto tão refratário à reflexão e à teoria e tão apegado a crenças e opiniões, como fazer do exercício do pensamento uma forma de materialização da política, ao modo da filósofa Hannah Arendt? É possível aproximar a filosofia da vida? É plausível renová-la com aquilo que há de mais pulsante e perturbador no nosso mundo?

Entendemos que o enfrentamento destas questões nos leva, pelo menos, a uma via que se bifurca em duas: de um lado, temos o predomínio de um tipo de eficácia social que se construiu desdenhando o exercício do pensar, dando primazia à razão técnica; muito rapidamente a nossa educação privilegiou a formação instrumentalizada, desconsiderando outras formas de conhecimento. De outro lado, nos deparamos com a subalternidade e invisibilidade de modalidades do saber e do pensamento que foram postos à margem das formas autorizadas de produção do saber: a produção de grupos raciais não hegemônicos quase sempre foi vista como algo periférico, menor.
Num momento de franca reivindicação por reconhecimento e representação, essa constatação, que não é nova, ganha impulso renovado por meio de diferentes focos. Emergem vozes insurgentes que vêm colaborando para a teoria social ao mesmo tempo em que apontam os racismos e outras formas de destituição que marcam a organização e difusão do saber (ocidental). Filósofos, a exemplo de Peter Sloterdijk, afirmam que “há um século a filosofia está morrendo. No entanto, ela não consegue morrer porque sua tarefa não foi cumprida.
Assim, sua despedida precisa se delongar de maneira aflitiva. (…). Achilie Mbembe e Sueli Carneiro são pensadores que, não aderindo à surdez diante do presente, dizem o que a filosofia “esqueceu” de dizer, conseguem apreender a formação do mundo naquilo que ela tem de mais profundamente excludente. Em suma, com eles, o conceito alcançou a realidade. O diálogo entre filósofos é algo que nos precede de longe. Epicuro-Platão, Spinoza-Descartes, Diderot-Rousseau, Althusser-Sartre. O que depreender de Achilie Mbembe e Sueli Carneiro quando postos em dupla? O curso partirá do diálogo entre os dois, acompanhando parte da trajetória de ambos, que tem como ponto inicial o filósofo Michel Foucault para manufaturar um outro paradigma de análise.
Sueli Carneiro se vale do dispositivo de sexualidade para construir o dispositivo de racialidade como chave explicativa do racismo e do sexismo. Assim, oferece também parâmetros de intervenção para a transposição do problema. Mbembe parte da biopolítica para fecundar a necropolítica e lançar luz sobre as políticas de soberania que decidem o valor da vida e do humano. Conscientes de onde falam, para onde e para quem falam os dois põem em relevo as referências intelectuais negras, costumeiramente ignoradas pela academia. Frantz Fanon, Charles Mills, Lelia Gonzalez são alguns autores com os quais estabelecem intensa interlocução.
Com essa aproximação, espera-se apontar uma filosofia insurgente que presta serviço para a compreensão do contemporâneo, a partir de um deslocamento radical dos modos de ver e de pensar.
Palestrantes
Rosane Borges
Jornalista, pós-doutora em Ciências da Comunicação, professora universitária, integrante da Cojira-SP (Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial), autora de diversos livros, entre eles “Esboços de um tempo presente” (Malê, 2016) e“Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro” (Imprensa Oficial, 2004).
(Foto: Ayalla Salvador)
Informações
Data
10/07/2019 a 16/07/2019
Dias e Horários
Segunda a sexta, 14h às 17h.
As inscrições podem ser feitas a partir de 27 de junho, às 14h, aqui no site do Centro de Pesquisa e Formação ou nas Unidades do Sesc em São Paulo.