Ações como o programa de trainees do Magalu apenas para negros devem ganhar força no País

Iniciativas para promover diversidade e inclusão, como a do Magazine Luiza, que gerou polêmica nas redes sociais, vão virar tendência em grandes empresas daqui para frente, segundo especialistas em recursos humanos e executivos. Nos últimos três meses, período tradicional de abertura de programas de treinamento, outras três empresas – BayerAmbev e P&G – também anunciaram inscrições de programas exclusivos para estudantes negros.

Em comum, essas empresas querem ampliar a diversidade dos novos funcionários e, principalmente, prepará-los para que ocupem cargos de direção. Um dos passos para atrair candidatos foi substituir a obrigatoriedade da língua inglesa por cursos que serão fornecidos aos que forem selecionados.

Na sexta-feira, o anúncio do Magalu sobre o programa de trainee abriu uma disputa nas redes sociais entre os que elogiaram a medida e os que acusaram a empresa de “racismo reverso” com brancos, usando a hashtag #MagazineLuizaRacista.

No mesmo dia, a Bayer, empresa da área química e farmacêutica de origem alemã, também abriu inscrições para um programa de trainee similar para 19 vagas e salários de até R$ 6,9 mil. Elisabete Rello, diretora de RH da empresa no Brasil, diz que sabia que haveria questionamentos, embora boa parte deles tenha sido direcionada ao Magalu.

“Quando avaliamos a quantidade e a qualidade dos comentários vimos que tem número maior de apoiadores, e esse apoio nos faz acreditar que estamos no caminho certo”, afirma Elisabete, acrescentando que é preciso coragem por parte das empresas para adotar esse tipo de medida. O grupo tem 6,5 mil funcionários no Brasil, segundo mercado mais importante para a companhia que atua em 87 países. “Só aqui existe esse programa, porque a questão ético racial é diferente nos demais”, diz.

presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Paulo Sardinha, acredita que a ação de grandes grupos será “vitrine” para outras empresas seguirem a tendência da diversidade não só em relação aos negros, mas também mulheres, deficientes físicos, analfabetos e homossexuais, assim como da sustentabilidade.

Em julho, a Ambev lançou programa de estágio voltado a pessoas negras, com 80 vagas. Em 2019, ela já havia feito programa piloto nessas condições e contratou dez pessoas. A P&G teve este ano dois programas nessa linha, em fevereiro e neste mês.

Patrícia Beltran, da Vagas.com, empresa de tecnologia que atua na área de RH e tem cerca de 3 mil clientes, afirma que várias empresas estudam ações de inclusão e diversidade há cerca de três anos, muitas com ações internas, e agora começam a focar em programas mais amplos. Segundo ela, empresas como SuzanoNaturaSantanderUnileverVivoCoca-colaBRF destinam pelo menos um porcentual de vagas para diversidade e inclusão.

Em relatório publicado ontem, a analista da XP, Marcella Ungaretti, considerou a ação da Magalu relevante “por enxergar a equidade racial e de gênero como ponte para ambientes empresariais bem-sucedidos e para um país mais igualitário”. / COLABOROU TALITA NASCIMENTO

+ sobre o tema

Quando raposas tomam conta do galinheiro, por Maurício Pestana

por Maurício Pestana  A expressão acima, dito popular...

Obama para de fumar e Michelle está ‘orgulhosa’

A luta contra o vício foi um dos temas...

Juízes lançam nota de repúdio à Condução Coercitiva de Lula

Juízes divulgam nota em que afirmam que não se...

para lembrar

O permanente holocausto negro

por: Ricardo Gondim A formação cultural brasileira tem graves deformações....

A face racista da miscigenação brasileira – Por Jarid Arraes

A questão da miscigenação racial no Brasil costuma ser...

E se não fossem os negros?

Roberto da Matta Não haveria esse futebol maravilhoso que renasce...

A Luta contra o Racismo é um dever!

Rafael Cantuária Um jogador de futebol negro xingado de macaco...

“Dispositivo de Racialidade”: O trabalho imensurável de Sueli Carneiro

Sueli Carneiro é um nome que deveria dispensar apresentações. Filósofa e ativista do movimento negro — tendo cofundado o Geledés – Instituto da Mulher Negra,...

Militares viram no movimento negro afronta à ideologia racial da ditadura

Documento confidencial, 20 de setembro de 1978. O assunto no cabeçalho: "Núcleo Negro Socialista - Atividades de Carlos Alberto de Medeiros." A tal organização,...

Filme de Viviane Ferreira mescla humor e questões sociais com família negra

Num conjunto habitacional barulhento em São Paulo vive uma família que se ancora na matriarca. Ela é o sustento financeiro, cuida das filhas, do...
-+=