Afro Turismo

Viajar é uma oportunidade de experimentar culturas e conhecer pessoas de uma maneira diferente. E ainda, a possibilidade de conhecer realidades diversas de ter empatia por pessoas, que até então eram desconhecidas.

Turismo etinco-afro, Afro Turismo, Turismo Afro Referenciado ou ainda Black Travel Moviment. Todas essas denominações o que está em pauta é o foco na população preta e sua identidade. Histórias que foram esquecidas ou apagadas durante muitos séculos ao longo de nossas vidas passam a ser protagonista através do turismo. Esse movimento no turismo não é recente, vem sendo discutidos em alguns espaços, em sua maioria como forma de resistência, e sendo desenvolvido por vários profissionais no Brasil e no Mundo.  

Durante o #BlackLivesMatter a pauta do turismo afro ganhou visibilidade e espaço em alguns lugares que antes não tinham vez. Como ocorreu no evento ABAV COLAB realizado de  27 de Setembro a 2 de outubro, onde o convite não aconteceu de forma voluntária e sim por conta de uma matéria no Guia Negro, e porque a Gabriela Palma (sócia da Sou+Carioca) postou em uma rede social que no ano que o  #vidasnegrasimportam esteve em evidência, o Afro Turismo não estava em pauta no evento.

O resgate dessas histórias ou de personagens que fazem parte da construção das narrativas afrodescendentes não é fácil, mas é preciso resistir e persistir. 

“Nós não vamos deixar que isso aconteça mais. Se não nos convidarem, vamos meter o pé na porta e entrar mesmo assim. Queremos o investimento dos grandes players nesse mercado que está em expansão no Brasil e já movimenta bilhões de dólares nos Estados Unidos, onde o Black Travel Movement é realidade. Por lá, os afro-americanos viajam para lugares da diáspora africana, o que inclui o Brasil.” 

(Guilherme Soares Dias-Editor do Guia Negro e sócio da Black Bird Viagem – Em LIVE: Turismo Afroreferenciado e a relevância pro mercado – Abav Collab 2020).

No Brasil 56,10% pessoas se declaram negras no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) do IBGE e não temos dados quantitativos sobre o quanto a comunidade negra movimenta na indústria turística, qual a demanda dessas comunidade e nem as ofertas afro centradas que existem no mercado do turismo. As iniciativas voltadas para o AfroTurismo surgem através de   empresas, plataformas e blogs que oferecem hospedagens, passeios, intercâmbios e viagens que buscam valorizar e ressignificar os espaços de memória e resistência da população negra.

O número de negros viajantes e significativamente menor que o número de brancos, a situação econômica, social e principalmente o fato de pessoas negras não se verem como possíveis viajantes. Em uma pesquisa qualitativa em 2018, a turismóloga Tainá Santos constatou que 46,7% dos viajantes negros já vivenciaram ou sofreram situações de racimo e/ou injúria racial em viagens pelo Brasil.

Assim como ocorreu com o empoderamento capilar, a promoção das estampas “afros” e a produção de conteúdo tendo como tema o empoderamento negro, a expectativa é que esse movimento de valorização também ocorra com as experiências afro centradas, sendo reconhecido no campo das pesquisas, tema de debate nos grandes eventos de turismo e do mercado de trabalho aceitando que a população negra também viaja e que precisam estar preparados para essa demanda.

Não é segredo que as comunidades afro-brasileiras sofrem grandes problemas econômicos e com a própria subsistência e o turismo sendo bem planejado pode ser um grande aliado na geração de renda com protagonismo da comunidade, levando valorização da identidade cultural por parte do próprio grupo e na preservação da memória e representatividade.

É importância para a sociedade conhecer a história contada pelo ponto de vista da própria comunidade anfitriã. No caso dos negros e indígenas, grupos historicamente perseguidos e oprimidos o que a maioria tem acesso são as versões euro centradas. Durante a experiência afro as lutas, o passado escravista, as experiências gastronômicas ou lendas são narradas por vozes da comunidade tornando a vivência única. O Afro Turismo funciona como um trabalho social, político, de militância, resistência e empatia.

Ao vivenciar essas experiências o viajante cria fortes conexões com a cultura negra, resgata histórias que foram apagadas pelo racismo, se conecta com sua ancestralidade e tem um novo olhar para o futuro e a busca pela história preta passar a ser uma necessidade.

Acredito que discutir o racismo e a ocupação de corpos negros dentro do turismo deve ser uma preocupação de todo trade turístico. Precisamos mostrar quem são os agentes construtores das cidades, quem são as personalidades e histórias que não nos contam em sala de aula. E apesar do foco se a cultura preta, a experiência é para todos.

Além disso precisamos lembrar que essa vertente do turismo é construída por pretas e pretos e deve ser para o consumo de todos, valorizando o lugar de fala e dando protagonismo a quem tem direito.

No dia 15 de outubro de 2020, foi lançado uma campanha para promover e divulgar o Afro Turismo através de alguns profissionais do trade turístico.

 

Quer apoiar voluntariamente o afro turismo? 

Envie e-mail [email protected] e aquilombe se em prol de um turismoantirracista.

 

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE. 

+ sobre o tema

para lembrar

Dissimular e ferir: verbos conjugados pela branquitude no cotidiano racista.

   Sabe aquele pedido de desculpa ou aquela expressão facial...

Desafios das mulheres negras no mercado de trabalho

As mulheres negras enfrentam desafios históricos na sua inserção...

Um convite especial: vamos à Bienal do Livro da Bahia?

Desde que publiquei meu primeiro livro, o Negra Sou, finalista do Prêmio Jabuti 2020, as minhas lembranças junto às bienais do livro têm ganho...

Refletindo sobre a Cidadania em um Estado de Direitos Abusivos

Em um momento em que nos vemos confrontados com atos de violência policial chocantes e sua não punição, como nos recentes casos de abuso...

Competência Feminina Negra diante de Chefes e Colegas de Trabalho Negros: Desafios e Reflexões

Hoje, mês da consciência negra, não focalizaremos no racismo perpetrado pelos brancos, mas sim direcionaremos nossa atenção para nós mesmos. Vamos discutir as novas...
-+=