Fonte: Folha de São Paulo –
Músico afirma que chegou ao local 50 minutos após o crime e que o coração da vítima ainda batia; “PM me disse que isso era normal”
José Júnior, do AfroReggae, chamou PMs acusados de abandonar vítima sem socorro de “marginais, criminosos fardados”
A Polícia Militar vai investigar a participação de outros policiais suspeitos de omitir socorro ao coordenador do AfroReggae, Evandro João da Silva, morto depois de ser baleado no centro do Rio de Janeiro, no final de semana passado.
Segundo o músico Anderson Elias dos Santos, amigo da vítima que chegou ao local 50 minutos depois do crime, o coração do coordenador ainda batia. “Um PM me falou que isso era normal e que ele já estava morto, mas não sei se o militar verificou”, disse.
Anderson Elias contou que recebeu um telefonema com a notícia do crime e rumou para o local. Os policiais já estavam lá. “Coloquei a mão no peito e percebi os batimentos cardíacos, mas, como o policial me disse que era assim mesmo, não chamei socorro médico. Não posso dizer se estava vivo, mas fiquei sem saber o que fazer”, disse.
Questionado sobre o fato de o coração de Evandro ainda bater 50 minutos depois, o delegado da 1ª DP (praça Mauá), José Luiz Silva Duarte, disse estar surpreso, mas que vai consultar um médico legista. Segundo o legista do caso, a causa da morte foi hemorragia interna devido a ferimento no intestino.
A juíza Yedda Christina Filizzola Assunção decretou ontem a prisão preventiva do capitão Denis Leonard Nogueira Bizarro e do cabo Marcos de Oliveira Salles, que estavam presos administrativamente. Eles foram filmados abordando os ladrões minutos após o crime, mas os liberaram e ainda ficaram com uma jaqueta e um par de tênis do morto, sem prestar nenhum tipo de socorro à vítima.
Durante encontro ontem no Quartel Central da PM, o coordenador-executivo do AfroReggae, José Júnior, referiu-se ao capitão Bizarro e ao cabo Salles como “marginais, criminosos fardados”.
O comandante Mário Sérgio Duarte declarou que se sentiu “ofendido” e que o coordenador deve se desculpar.
“Não gostei. Não havia necessidade de o José Júnior ter dito “bandidos fardados”. Tenho isso como uma ofensa, não porque os PMs cometeram o que cometeram. […] Tenho isso como uma ofensa porque ele foi acolhido dentro do quartel-general da PM, porque expressões desse tipo acabam ofendendo toda a corporação.”
Mas ontem o próprio governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), chamou os policiais envolvidos no caso de “bandidos ao quadrado”.
Pela manhã, Cabral havia pedido a exoneração do major Oderlei dos Santos Alves de Souza do cargo de relações-públicas da Polícia Militar, por ter dito que os policiais suspeitos tinham cometido “apenas desvio de conduta”. “O major Oderlei não se comportou como porta-voz da PM, mas sim como advogado dos policiais.”
O comandante-geral afirmou que todos os PMs envolvidos de alguma forma no crime serão investigados. “Todo PM recebe treinamento para verificar os sinais vitais. Se houve omissão, será investigada.”