A música monumental de Milton Nascimento extrapolou as fronteiras do Brasil ainda nos anos 1960. Tanto que o segundo álbum do artista carioca de alma musical mineira, Courage (1968), já foi direcionado para o mercado fonográfico dos Estados Unidos.
Ainda assim, a influência do álbum Native dancer (1975) – disco gravado por Milton como convidado do compositor e saxofonista norte-americano Wayne Shorter (25 de agosto de 1933 – 2 de março de 2023), ícone do jazz morto hoje nos Estados Unidos, aos 89 anos – foi determinante para expandir ainda mais o som do artista brasileiro pelo mundo.
Em Native dancer, Shorter se valeu da música original de Milton Nascimento para misturar o jazz com ritmos brasileiros em fusion pautada pela latinidade, alicerçada pela presença de músicos brasileiros no disco, como o pianista Wagner Tiso e como os percussionistas e bateristas Airto Moreira e Robertinho Silva.
Nada menos do que cinco das nove músicas do álbum Native dancer trazem a assinatura de Milton Nascimento. Algumas, como Ponta de areia (1974), parceria do compositor com Fernando Brant (1946 – 2015), eram novas na época da feitura do disco, gravado em 1974, em Los Angeles, Califórnia (EUA), e lançado em janeiro do ano seguinte.
Native dancer se tornou um disco instantaneamente influente e jamais perdeu essa característica ao encontrar novos ouvintes. Tanto que o grupo norte-americano Earth, Wind & Fire regravou Ponta de areia dois anos depois no álbum All ‘n all (1977), reapresentando a música com o nome de Brazilian rhyme.
O repertório de Native dancer reverberou em discos como Hybrido – From Rio to Wayne Shorter (2017), lançado pelo pianista carioca Antonio Adolfo há seis anos com repertório que incluiu dois temas apresentados por Shorter no álbum de 1975, Ana Maria e Beauty and the the beast.
Amigo de Milton Nascimento, Wayne Shorter se vai, mas deixa, entre o imenso legado musical, esse álbum que ajudou nomes como Esperanza Spalding a descobrir (e a se encantar com) a música inigualável de Milton Nascimento.