‘Alisa não, mãe!’: Este projeto quer valorizar a beleza negra desde a infância

Bonecas de cabelo liso, princesas Disney de cabelo liso, mães/tias/avós de cabelo liso, colegas fazendo piada maldosa sobre seus cachos… Se descontruir os padrões de beleza é uma tarefa difícil na vida adulta, nos anos de formação pode ser ainda mais.

Por  Julia Warken, do Brasil Post 

“Um dia uma amiga confessou que não gostava do cabelo da filha dela, que é um afro lindo. Ela disse para mim que tinha sofrido muito na infância e na adolescência com o cabelo dela e não queria que a filha passasse pelo que ela passou”, conta a fotógrafa mineira Carolina Castro sobre o momento em que o projeto“Alisa não, mãe!” nasceu.

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Mãe de duas meninas, ela compreendeu o drama da amiga e sentiu que algo poderia ser feito para ajudar crianças e adultas a desmistificar esse problema.

“Eu queria ajudar de alguma forma e comecei a entrar em grupos do Facebook que falam sobre cachos, tratamentos e produtos. Assim descobri um universo de mulheres que estavam se libertando na ditadura do liso. Cada vez que eu via um ‘antes e depois’ daquelas mulheres que resolveram assumir os cachos eu ficava encantada em ver como elas estão infinitamente mais bonitas agora”.

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A partir daí, Carolina começou a buscar crianças e adolescentes negras para fazerem parte do projeto, que inclui fotos e depoimentos.

“Apesar de não ser negra, sou bisneta, neta e filha de negra. Sempre tive muita admiração e respeito. Eu sabia que era um risco que eu corria de parecer hipócrita, por ter pele clara, mas a causa me movia, me motivava e não dava para esperar”.

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Segundo Carolina, o grande objetivo é empoderar meninas e também dialogar com as mães. “Eu tenho um espaço como uma página e um instrumento como a fotografia, então eu posso usar isso para representar outras pessoas. E foi isso o que aconteceu, as pessoas se sentiram representadas”.

Há pouco mais de 15 dias Carol começou os ensaios com meninas negras de 9 meses a 16 anos, além de algumas mães que também toparam ser fotografadas.

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“Não fiz pré-seleção. Não queria avaliar beleza, queria diversidade e representatividade. Marquei a data, perguntei quem poderia e no primeiro ensaio foram seis meninas. A maioria delas nunca tinha tido a oportunidade de fazer um ensaio fotográfico”.

Apesar de recente, o projeto já está dando o que falar e Carolina comemora a repercussão positiva.

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“Tenho recebido muitos e muitos comentários e relatos de pessoas que se sentiram abraçadas com o projeto. Pessoas também estão entrando em contato comigo para saber se podem copiá-lo e eu fico muito feliz. Quero que fotógrafos de todos os lugares façam, porque, sinceramente, não é só sobre cabelo. É sobre autoestima, autoaceitação, sobre liberdade e quebra de paradigmas”.

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Até o momento dois ensaios já foram realizados e Carolina conta que várias outras meninas e mães já demonstraram interesse em participar dos próximos. A fotógrafa trabalha em duas cidades de Minas Gerais: Divinópolis e Araxá. Você mora por perto e conhece alguma menina negra orgulhosa dos seus cachinhos ou tranças afro? Então aqui vão os telefones para contato: (37) 9138-1304 (Divinópolis) e (34) 9835-0700 (Araxá).

Girl (black) power: sim! :)

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