Aluna do Ciências sem Fronteiras diz sofrer racismo e abre queixa na Itália

Baiana tem 28 anos e faz intercâmbio na Università degli Studi di Siena.
Ela é comparada a macaco em postagem de italiana em uma rede social.

Henrique Mendes

Uma estudante da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), do campus situado em Santo Antônio de Jesus, afirma que foi vítima de injúria racial na Itália. A jovem registrou  queixa no Distrito Policial de Siena. Débora Reis da Cruz, 28 anos, está no país desde o dia 24 de agosto de 2013 pelo Programa Ciência Sem Fronteiras, que oferta bolsa de estudos para brasileiros. Em entrevista ao G1, ela detalha que teve uma foto publicada no Facebook que a compara com macaco.

A denúncia foi registrada na delegacia no dia 23 de maio. No relato prestado à polícia, a estudante de Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BI) aponta que está sendo perseguida pela autora da publicação. De acordo com ela, a história começou logo após a sua chegada em Siena, no dia 24 de agosto de 2013.

Na época, ela afirma que conheceu diversas pessoas, dentre elas, um rapaz que se dispôs a lhe apresentar a cidade. A suspeita de fazer a montagem, segundo a brasileira, é ex-mulher do italiano.

“Eu aceitei o convite e ele me levou para ver um jogo de futebol. Ele me disse que era divorciado, que morava sozinho e que tinha uma filha com sua ex-esposa. Um dia, ela [ex-esposa] viu uma publicação, me adicionou no Facebook e começou a me humilhar, a falar coisas ofensivas sobre a minha cor de pele, cabelo, dentes e jeito de me vestir”, descreve.

 

Aluna do Ciências sem Fronteiras diz sofrer racismo e abre queixa na Itália
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A estudante afirma que, além de ter sido comparada ao macaco, tem sido chamada pela agressora de galinha preta e barata.

O relato das ofensas raciais foi emitido pela estudante para a UFRB. No texto, a estudante diz que o fato tem afetado o desenvolvimento na Università degli Studi di Siena, onde faz intercâmbio.

“Ora, não sou macaco! Absolutamente! Nem macaco, nem galinha preta, nem barata, nem qualquer bicho. E não pelo fato de ser NEGRA. Sou humana e gostaria de ser tratada com respeito, pois embaixo da cor da pele contemos o mesmo DNA e isso me faz igual a todos. Ainda não contente, ela continua mandando mensagens e me humilhando pela rede social com todos esses adjetivos citados acima. A sensação que tive foi como se tivessem passado um trator na minha autoestima”, desabafou.

Ainda no texto, ela pede ajuda para a UFRB, a fim de que a suposta agressora seja punida. “Sinceramente, me sinto de mãos atadas diante do fato, pois não estou tendo apoio e, por isso, venho pedir isso da minha universidade UFRB, pois não gostaria que esse episódio lamentável e vergonhoso ficasse impune. Devíamos aproveitar o ensejo para nos preocuparmos com o insidioso racismo real que vivenciamos diariamente no nosso país, sobretudo contra negros pobres, e que não é exposto devidamente na mídia”, afirma.

Débora da Cruz relata que a mulher responsável pelas ofensas é italiana, mas já morou no Brasil. Em Siena, ela mora com mais quatro brasileiros. Procurada pelo G1, a UFRB comentou, por meio da assessoria, que já tem conhecimento do caso e que irá entrar em contato com o consulado local para auxiliar a jovem.

 

 

Fonte: G1 Bahia

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