Aluno de medicina exerce profissão ilegalmente no NE

Por: MATHEUS MAGENTA



Falta de profissionais já formados faz com que estudantes sejam chamados, o que é vedado pela lei

Na Bahia, universitários compram casa, carros e artigos de luxo com rendimentos mensais que chegam a R$ 15 mil


Estudantes de cursos de medicina de universidades públicas e privadas da região Nordeste têm exercido ilegalmente a profissão, principalmente no interior.
Na Bahia, os alunos compram apartamentos, carros e artigos de luxo com rendimentos que chegam a quase R$ 15 mil por mês.

Alunos são proibidos por lei de exercerem a profissão, exceto com a supervisão de médicos autorizados, como professores e pesquisadores.

A prática ilegal da profissão é crime previsto no Código Penal e tem pena prevista de seis meses a dois anos de detenção e multa, caso praticado com o objetivo de lucro.

A reportagem entrevistou três estudantes que já praticaram ilegalmente a profissão. As vagas são “agenciadas” por secretários municipais de Saúde, alunos, recém-formados, diretores de hospitais e médicos.

A atividade, no entanto, não está restrita as cidades do interior. Ocorre também na periferia de regiões metropolitanas de capitais.

Um estudante chega a ganhar R$ 1.200 por 24 horas de trabalho, mas pode dividir parte do valor com o responsável pelo plantão.

 

CÓDIGO DE ÉTICA
O Código de Ética Médica veda ao médico delegar a outros profissionais atos ou atribuições exclusivas da profissão ou ser cúmplice do exercício ilegal da profissão de terceiros. Ele pode sofrer desde advertência até suspensão da licença médica.

Em Pernambuco, o chefe de fiscalização do Conselho Regional de Medicina, José Carlos Alencar, estima que a prática envolva 200 alunos.

Em março de 2009, o conselho encontrou um estudante da Universidade de Pernambuco atuando como médico em um hospital de Tracunhaém (PE). Ele fugiu após a chegada da equipe.

A prefeita do município, Graça Lapa (PSB), disse que aceita a prática devido à falta de médicos na região, mas decidiu suspendê-la para “evitar problemas”.
“Só sei que o povo ficou triste. Médicos novinhos têm a maior atenção com a população.”, disse a prefeita.

O Tribunal de Contas do Estado abriu um processo por má gestão de recursos públicos e a secretária de Saúde do município foi denunciada para o Conselho Regional de Medicina.

 

ROUPA NOVA

Estudantes dizem que os atrativos para a prática são altos salários e justificam a atividade em “conhecimento prático extra” e falta de estágios remunerados.
“É nítida a mudança de perfil do estudante. Aparece na faculdade com roupas novas, carro zero quilômetro, notebooks. Há colegas que já compraram um apartamento e estão em busca do segundo”, relatou um aluno, que pediu anonimato.

Membros de conselhos de medicina dizem que a situação é de “terra sem lei”.
“O conselho não pode puni-los porque eles ainda não são médicos, e as faculdades também ficam de mãos atadas porque os plantões ilegais não são atividades ligadas à instituição”, afirmou

Eurípedes Mendonça, do conselho médico paraibano.
“Resta o Código Penal, que não evita que eles se tornem médicos”, disse Mendonça.

 

 

 

Fonte: Folha de S.Paulo

+ sobre o tema

Boletim Eletrônico Tempo Em Curso

  Prezado companheiro e prezada companheira, Informo que o terceiro número...

Projetos que valorizam identidade negra são premiados no Rio

Evento, com a presença do ministro da Igualdade Racial,...

para lembrar

MPT-RS lança campanha pela igualdade da mulher negra no mercado de trabalho

Porto Alegre (RS), 16/06/2010 - O Ministério Público do...

Já conhece o Guia de Políticas Públicas de Juventude?

Já imaginou ter um material simples e prático para...

Pernambuco e Alagoas terão R$ 249 milhões para reconstruir escolas

As secretarias de Educação dos Estados de Pernambuco e...
spot_imgspot_img

João Cândido e o silêncio da escola

João Cândido, o Almirante Negro, é um herói brasileiro. Nasceu no dia 24 de junho de 1880, Encruzilhada do Sul, Rio Grande do Sul....

Levantamento mostra que menos de 10% dos monumentos no Rio retratam pessoas negras

A escravidão foi abolida há 135 anos, mas seus efeitos ainda podem ser notados em um simples passeio pela cidade. Ajudam a explicar, por...

Racismo ainda marca vida de brasileiros

Uma mãe é questionada por uma criança por ser branca e ter um filho negro. Por conta da cor da pele, um homem foi...
-+=