Amizades no ringue

Pouco aguento ler ou ouvir notícias. São sempre as mesmas. Os grandes jornais, concorrentes entre si, duelando para conservar assinantes cada vez mais escassos, contam reprises. Como se a pauta não fosse um trabalho humano, mas divino. Unanimidades que caem do céu diretamente nos computadores dos jornalistas.

Por Fernanda Pompeu  Do Yahoo

Mas a mesmice não ataca apenas a imprensa, ela pousa nas telenovelas, nos programas de rádio e até na maneira igual e ruim de jogar futebol. É baita contradição. Se por um lado há um enxame de narrativas, sete bilhões de pontos de vista, por outro lado há um desejo de pertencer à manada.

Está na moda dizer que a sociedade brasileira é conservadora. Pode até ser. Mas não o tempo todo, não em todos os aspectos. Assim como houve uma época em que se martelava que o brasileiro era um povo alegre, capaz de fazer piada com a própria desgraça. Afirmação relativa. Porque o brasileiro – igual a qualquer outro povo – também é violento, mal-humorado, rancoroso.

Tudo depende das circunstâncias. Assim ensinou o filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955) ao sintetizar: Eu sou eu e minha circunstância. Quando as circunstâncias mudam, o jeito de pensar e agir se transforma também. Os gregos – inventores da filosofia, pedagogia, democracia – são os pobres europeus da vez. O que não quer dizer que será sempre assim. Pode ser que, no futuro, os alemães fiquem pobres. E depois ricos novamente. Circunstâncias!

Alguns brasileiros – no passado recente, definidos como cordiais e pacíficos – andam aplaudindo linchamentos e amarrando ladrões em postes. Hoje, amigos de muitos anos e famílias que almoçam aos domingos trocam ofensas em consequência de posições políticas contrárias e contrariadas.

Esta semana fiquei sabendo que duas amigas minhas, e amicíssimas entre si, deixaram de se falar por conta de uma ser tucana e a outra, petista. Não se encontram mais, não jogam cartedado. Olha que a amizade delas tem mais de 30 anos, sobreviveu a muitas urnas. Mas não resistiu aos dogmatismos do presente: Se você não pensa como eu, deleto você do Facebook, mudo de calçada para não dar oi.

Vivemos radicalismos que me deixam perplexa. Daí, como leitora, gostaria que os jornais impressos e digitais me ajudassem a compreender as circunstâncias. A história do Brasil, e nossa também, neste 2015. Mas eles pouco ajudam. No fundo, alimentam o extremismo de opiniões e a mágoa entre corações, até ontem, unidos.

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