Por Adilson Barros
Façanhas do pai do Rei do Futebol, astro da equipe local, são lembradas com saudade e orgulho na pequena cidade mineira
Três Corações, cidade de 80 mil habitantes no sul de Minas Gerais, se orgulha de ser a terra natal de Pelé. No entanto, para uma geração mais idosa do que Rei do Futebol, o verdadeiro craque da cidade é outro: João Ramos do Nascimento, mais conhecido como Dondinho e pai de Edson Arantes do Nascimento. Entre os anos 30 e 40, João era o principal jogador do Atlético de Três Corações e ídolo na cidade.
– Era um craque. Centroavante que não ficava apenas preso dentro da área. Sabia jogar pelo chão, além de ser um grande cabeceador. Uma vez, quando o Atlético conquistou um título, Dondinho foi carregado pela cidade – conta Victor Cunha, ex-presidente do Atlético e historiador de Três Corações.
Dondinho nasceu em Campos Gerais (MG), em 1917, e chegou a Três Corações em meados da década de 30 para servir ao Exército. Sempre teve talento para jogar futebol e logo começou a jogar no time local. Na cidade, conheceu Maria Celeste, com quem se casou e teve três filhos. Edson (Pelé), Jair (Zoca) e Maria Lúcia. Em 1940, ano que Pelé nasceu, as boas atuações de Dondinho chamaram a atenção do Atlético-MG. Seria a chance de mostrar serviço na capital, num time de ponta. No entanto, em sua estreia, num amistoso contra o São Cristóvão-RJ, sofreu lesão no joelho. Não conseguiu mais ter chances e acabou voltando para Três Corações.
– É uma pena que ele não tenha dado sorte. Se machucou e não pôde seguir. Era jogador para Seleção Brasileira – comenta Victor Cunha, de 81 anos, que conheceu muito bem a família de Pelé.
Ele conta que Três Corações só descobriu que o filho de Dondinho era jogador de futebol na Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Aos 17 anos, Pelé, que já era estrela no Santos, encantou o mundo e foi fundamental na conquista brasileira.
– Quando deixou a nossa cidade, Pelé não tinha nem três anos. São Lourenço (cidade mineira) estava formando um time forte e levou Dondinho. Depois, eles foram para Bauru. Não tivemos mais notícias. Ele jogava no Santos e tudo mais, só que naquele tempo não havia comunicação. Quando o Brasil iria estrear na Copa, meu pai me pediu para tentar sintonizar alguma rádio para ouvir o jogo. Falou que o filho do Dondinho iria jogar. Nem lembro como foi que ele descobriu. A gente nem sabia que ele se chamava Pelé. Quando saiu daqui, era o Dico.
Victor conta que pai e filho tinham características semelhantes.
– Pelé herdou muita coisa de Dondinho. Principalmente o cabeceio. Houve um jogo contra o Ribeirão Vermelho em que ele fez cinco gols de cabeça. Eu estava lá e vi. Foi impressionante.
Já famoso, nos anos 60, Pelé passou por Três Corações. Foi quando Victor Cunha pôde conhecê-lo de verdade. A Seleção Brasileira se preparava para a disputa da Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966, no interior de Minas Gerais. Na ocasião, a cidade resolveu homenagear o filho ilustre, dando à rua 13, onde ele nasceu, o nome Edson Arantes do Nascimento.
– Pelé já era muito famoso, mas se mostrou bastante humilde, conversou com todo mundo, deu autógrafos. É uma pessoa maravilhosa. Ele merece tudo o que conquistou. Dondinho também. Ele não conseguiu dar sequência à carreira, mas ficou muito feliz por ver o filho vencer como venceu – conclui.
Dondinho morreu em Santos, no dia 16 de novembro de 1996. Tinha 79 anos.
Fonte: GloboEsporte