Ao ser levado para a viatura, um policial disse para o advogado: ‘Negão, o pau vai cantar pra ti’

Advogado agredido durante protesto acusa PMs de racismo

A Ordem dos Advogados do Brasil no Piauí oficializou nesta quarta-feira (04) o pedido de afastamento dos policiais militares envolvidos na agressão ao advogado Enzo Samuel Alencar Silva. O documento foi entregue ao coronel Rubens Pereira, comandante da PM, pelo presidente da OAB-PI, Sigifroi Moreno.

Enzo Samuel foi detido ontem (03), durante manifestação contra o aumento da passagem de ônibus em Teresina. Advogado do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), ele acompanhava a manifestação quando foi dominado por PMs e preso no bagageiro de uma viatura do Grupamento Ronda Cidadão. Sangrando e com falta de ar, Enzo chegou a passar mal.

“Eu estava algemado e pedi pro rapaz que também estava na viatura e que estava sem algema pra pegar meu celular e entrar em contato com a Tenente Coronel Júlia. Por telefone, ela demonstrou surpresa com o que estava acontecendo e foi até o local, me identificar como advogado. Foi quando me soltaram”, explicou Enzo.

Andréia de Carvalho, estudante da Universidade Federal do Piauí, também presente no Quartel do Comando Geral da PM, mostrou aos jornalistas o hematoma na perna direita. “Durante a correria, pra dispersar os manifestantes, a polícia atirou com balas de borracha. Eu tava de calça jeans, por isso só percebi depois, quando cheguei em casa”, declara a estudante, que relatou ter feito o exame de corpo delito e que irá registrar um Boletim de Ocorrência. “Todos deveriam ser punidos”, acrescenta.

Ao ser levado para a viatura, um policial disse para o advogado: ‘Negão, o pau vai cantar pra ti'
Ao ser levado para a viatura, um policial disse para o advogado: ‘Negão, o pau vai cantar pra ti’
Ao ser levado para a viatura, um policial disse para o advogado: ‘Negão, o pau vai cantar pra ti'
Ao ser levado para a viatura, um policial disse para o advogado: ‘Negão, o pau vai cantar pra ti’

Para o presidente da Ordem, as imagens veiculadas na imprensa provam que a manifestação realizada na Avenida Frei Serafim era pacífica. Sigifroi Moreno considera que a força utilizada pela tropa de choque da PM foi desmedida e que ficou claro o despreparo dos policiais.

Durante o encontro com o coronel Rubens Pereira, a OAB solicitou também que a ação da PM seja investigada. O comandante garantiu que a denúncia será encaminhada para a Corregedoria, mas que a apuração dos fatos partirá do pressuposto que os policiais estavam na rua cumprindo seu dever, que é manter a ordem.

“Trata-se de uma atuação pontual que não representa a instituição da PM. Nós iremos atuar conforme a legislação determina, inclusive afastando os policias envolvidos, se houver necessidade. Estamos tentando fazer o melhor possível para melhorar a qualidade da polícia, mas partiremos do pressuposto de que eles estavam lá para manter e restaurar a ordem, o que é o dever deles”, declarou o comandante.

Racismo

Ao ser levado para a viatura, um policial disse para o advogado: ‘Negão, o pau vai cantar pra ti'
Ao ser levado para a viatura, um policial disse para o advogado: ‘Negão, o pau vai cantar pra ti’

O advogado Enzo Samuel participou da reunião. Ele defende punição geral à tropa da PM que atuou na repressão à manifestação contra o aumento da passagem. Ao avaliar tudo o que aconteceu nesta terça-feira (04), Enzo considera que foi vítima de preconceito e racismo.

“Ao ser levado para a viatura, um policial disse pra mim: ‘Negão, o pau vai cantar pra ti'”, relata. Além disso, ele avalia que o fato de estar de bermuda impediu que a polícia acreditasse que ele estava no protesto exercendo funções de advogado. “As pessoas costumam associar a imagem do advogado a uma pessoa vestida formalmente, de terno e gravata. Eu não preciso disso pra exercer minha carreira.”

Enzo acrescentou que confia na PM e nos órgãos responsáveis pela investigação. “Eles denegriram a imagem da polícia, por isso acredito que os responsáveis serão identificados e punidos”, afirmou.

Por Jéssica Monteiro e Rômulo Maia

Foto: Dantércio Cardoso e Thiago Amaral

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