Aos Obamistas sonhadores e pretendentes à Obama

Perfil dos eleitores nas eleições americanas

Reginaldo Bispo – MNU

As eleições americanas suscitam inúmeras avaliações, mas a maioria apontam para conclusões de superação dos conflitos raciais naquele pais, suprimindo de um lado o nacionalismo negro resultante da resistência ao racismo histórico, e de outro, a superação daquele sentimento, que já foi majoritário entre os norte americanos brancos.

Estas análises, desconsiderando as condições conjunturais, argumentam que por não ser descendente de escravos, ser mestiço, e por ter meio-irmãos brancos, asiáticos e negros, Obama não seria susceptível a ressentimentos históricos e a essas diferenças. Se constituindo assim em um político pós racial, acima daquelas diferenças, concluindo portanto, que esta seria a nova característica assimilada pela sociedade americana, e o motivo de eleição do presidente democrata. Estes mesmos analistas, advogam a mesma formula para o Brasil. Não fazendo distinção entre o candidato e o povo; ou as características de cada povo, condições econômicas, sociais etc.

No outro extremo, a racista Klu Klus Kan, concordando parcialmente com esse discurso, em nota, diz que Obama é meio negro e meio branco. Branco da cintura pra baixo, provavelmente enaltecendo simbolicamente a virilidade machista, agressiva e conquistadora do homem branco; e preto da cintura pra cima, provavelmente fazendo uma critica ao fato dos EUA ser dirigido daqui por diante, por um cérebro negro, sob o argumento de que a civilização branca americana está sendo derrotada e vai sofrer por isso, em tom de intimidação a brancos e negros eleitores de Barack.

O Estadão do dia 11 de novembro, publicou uma pesquisa da Edison Media Reseach e pela Mitofsky International com 17.836 eleitores, em 300 zonas eleitorais dos EUA, e mais 2378 entrevistas por correio, traçando um perfil do eleitor americano nas ultima eleição, através de gráficos comparativos em relação a algumas eleições presidenciais anteriores.

Em principio os gráficos por sexo, não trazem grandes diferenças. As mulheres em 1976 se dividiam ao meio no voto a Democratas e Republicanos. A partir de 1992 passam a votar crescentemente nos democratas aumentando a diferença a cada eleição, 10% a mais de diferença em 1992, e 13% em 2008. Entre o sexo masculino, também não há novidades, empatados os dois partidos em 47%, em 1976, repete o empate num patamar em torno de 40% em 1992, e repete 48% para cada em 2008. Aqui trata-se de homens e mulheres no geral.

Na média das ultimas eleições, o comportamento eleitoral das mulheres comparado aos homens, dão uma vantagem para os democratas, de 6%; 53% a 47%. Num exercício de interpretação desse resultado, poderíamos considerar que as mulheres são mais pragmáticas menos afeitas as disputas raciais, mais sensíveis às dificuldades sociais decorrentes da crise econômica, como o emprego e a renda da família, com a comida na mesa e o pagamento das contas, mas também preocupadas em não enviar e retirar seus filhos da guerra do golfo.

Considerando os grupos étnicos, entre os negros também não há novidades, eleitores majoritários dos democratas desde 1976, com 82% a 18%. Em 1992 aumentaram essa diferença para 82% a 15%, e na ultimas eleições, essa tendência se expressa ainda mais com o resultado de 95% a 4%. Ao contrario do que afirmam a maioria dos analistas, permanece o sentimento de identidade entre os negros, resultado da polarização racial, da perseguição violenta do estado, do desemprego e da pobreza de milhões de negros. Polarização que se confirma pelo gráfico dos votos entre os brancos.

Os brancos proporcionaram um empate dos dois partidos em 1976, com 48% cada. Depois empatam de novo em 1992, com 40%, porém agora, os republicanos descarregaram 55% a 43% sobre os democratas. Em 76 e 92, eram candidatos brancos em ambos os partidos; ocorre que em 2008, é um republicano branco contra um negro democrata. Este resultado pode demonstrar muito mais que mera estatística, contrariando aquelas opiniões.

Mesmo em um momento de crise, de pavores com a situação econômica e com a guerra, os eleitores brancos americanos dão uma nítida e expressiva maioria de 12 pontos percentuais ao candidato branco do partido republicano. Ainda que os democratas tenham vencido em estados antes monopólio dos republicanos, houve um crescimento significativo de novos eleitores inscritos votando em MacCain, este comportamento dos republicanos podem indicar um recado explicito, o pais pode enfiar-se até a cabeça na guerra, a crise na economia pode atolar todo os EUA no caos. Mas não votamos em um negro. De onde vem estes votos, além do publico branco masculino?

Nas cidades com mais de 500 mil habitantes (11% do eleitorado), segundo os mesmos gráficos, a votação é crescente em favor dos democratas, em 1984, 62% contra 36% dos republicanos; de 60 a 30 em 1992 e a 70 a 28 em 2008. Nas cidades com populações entre 50 e 500 mil (19% do eleitorado), Há uma pequena inversão, inicialmente, quase um empate técnico, em 1984, com 52% para os republicanos a 48%; depois em 1992, em favor dos democratas 52% a 38%, e agora em 2008, num crescente em favor dos democratas, 59% a 39. Indicando que nos grandes centros a população tende a ser mais despojada, e mais sensível aos problemas do país.

No entanto dos subúrbios (onde reside 49% da população), a maioria republicana, proporcionou uma inversão significativa, de 58% a 38 contra os democratas, em 1988; um empate em torno de 40% em 1992; e um empate em torno de 50% este ano. A população trabalhadora, mal informada e pobre das periferias, predominantemente branca e republicana, (50% do eleitorado), empenharam-se desta vez, em acentuar aquelas diferenças, e se inscrevem maciçamente para votar contra o negro democrata. Felizmente, a outra metade da população demonstrando sensibilidade, e equilibrou a votação, evitando aqui uma derrota de Obama. A tensão vive lado a lado.

Das cidades de 10 a 50 mil habitantes, e da zona rural (7% do eleitorado) vem o grande indicador. Republicanos vencem com larga margem: 61 a 39% nas pequenas cidades,em 1988; Empatam num patamar de 40% em 1992; e reagem de maneira significativa e contundente com 53 a 45%, em favor dos republicanos. Ocorrendo praticamente o mesmo nas zonas rurais( 14% do eleitorado): com 57 a 42 a favor dos republicanos em 1988; empate em torno de 40% em 1992 e ganhando os republicanos com 53% a 45 em 2008.

A coincidência do resultado destas duas regiões com o resultado entre os homens de 55 a 43 para MacCain; é inversa ao resultado final das eleições deste ano 53 a 47 em favor de Barack Obama, não seria um recado, dos eleitores republicanos brancos, masculinos, adultos, maduros e velhos, em quase todos os distritos eleitorais, e dos distritos interioranos, de não votar em um negro de jeito algum?

Sabemos que setores como a juventude por sua radicalidade e expontaneismo natural (menos sujeitos as diferenças, por idealismo, ou por ainda, não disputar o mercado de trabalho), tende nessas horas de crise e de guerra se comportar de forma liberal: assim como as mulheres, por serem mais objetivas e praticas; e a classe média bem informada, também pragmática, em defesa de seu lar, trabalho e padrão de vida, acompanhando a tendência mais coerente, e instantaneamente esquecendo as diferenças. No entanto, no individuo negro por defesa e nos brancos adultos, velhos, machos e interioranos prevalecem as tradições e o conservadorismo.

Bem, agora que se expliquem os defensores da teoria do pós racial, que junto com Ali Kamel, Ivone Maggie, Magnole e o MNS, acusam o movimento negro brasileiro, de adeptos do racialismo. Afinal o que diabo é Racialismo? Reginaldo Bispo-MNU-CPN-SP

Fonte: Lista Racial

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