Engenho Jaguaribe, em Abreu e Lima, foi um dos primeiros instalados na então Capitania de Pernambuco. Ossada pode ser de quem viveu no local em meados de 1500.
Por Bruno Grubertt, do G1
Arqueólogos encontraram uma ossada humana enterrada no terreno do Engenho Jaguaribe, em Abreu e Lima, no Grande Recife. Um dos mais antigos engenhos do estado é estudado pelos pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Uma das hipóteses é que o achado pode indicar que, no local, viveram europeus, indígenas e escravos africanos.
O Engenho Jaguaribe começou a ser construído em 1540. Debaixo da terra, professores e alunos do Departamento de Arqueologia da UFPE encontraram louças, vestígios de uma capela, da casa-grande do engenho e continuam a escavar o terreno em busca do que teria sido a senzala.
Os ossos humanos encontrados no local formam um esqueleto aparentemente completo. De acordo com a professora Cláudia Oliveira, arqueóloga responsável pela pesquisa, a descoberta pode ajudar os historiadores a entenderem melhor os primeiros anos da colonização portuguesa no estado.
“Essa área é a de um dos primeiros engenhos implantados na Capitania de Pernambuco e sua história é superimportante, pois assim podemos reconstituir como era o funcionamento desses primeiros engenhos. Temos muitas informações dos séculos 17 e 18, mas temos poucas do século 16”, explica a arqueóloga.
O grupo de arqueólogos estuda o Engenho Jaguaribe desde 2001, mas as escavações começaram em 2015. Desde então, descobertas importantes foram feitas sobre a área, que fez parte do início do povoamento de Pernambuco.
Para saber exatamente o que os ossos podem trazer de informações históricas, é preciso levar o material para o laboratório. Apesar disso, o trabalho precisa ser lento e cuidadoso, para preservar elementos da história que foram escondidos pelo tempo.
“É uma descoberta grande porque poderemos contar um pouco da história do dia a dia não só através dos objetos, mas a parte física. O homem, vamos dizer. Precisamos de medidas de preservação dessa área e de tempo para recuperar todas essas informações. O trabalho é muito lento e minucioso”, a a professora.
Um dos estudantes envolvidos na escavação, Paulo César Neri conta a importância do achado para reconstituir a história do século 16. “A gente faz a retirada do material para analisar no laboratório e possivelmente identificar o sexo, possíveis patologias, além do estudo de DNA, para indicar as ancestralidades e as demais informações como traumas, que podem ser a causa da morte”, diz.
O terreno em que os arqueólogos trabalham tem mil metros quadrados, mas há poucos técnicos para a extensão territorial. Atualmente, as escavações são financiadas pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura, por meio de um projeto aprovado pelo grupo de arqueólogos. Apesar da descoberta, os arqueólogos temem que a pesquisa seja paralisada por falta desse financiamento.
Por causa disso, os pesquisadores procuram trazer ao local vizinhos e estudantes da região, para que eles entendam a importância da pesquisa e de preservar o espaço, quando os pesquisadores não estiverem mais no local.
“O trabalho é muito lento e minucioso, não se pode chegar escavando tudo. Esse achado mostra, mais uma vez, a importância dessa área para a continuidade da pesquisa”, diz Cláudia.