Artigo: Não é estatística; são 25 mulheres assassinadas

Enviado por / FonteCorreio Braziliense

Andreia Crispim foi a 25ª vítima de feminicídio do Distrito Federal só este ano. Isso não pode significar apenas uma estatística para ser usada para construir políticas públicas

Eu li a história de Andreia Crispim, 50 anos, vítima de um assassino, que transformou sua vida em um martírio. Não causa apenas tristeza, mas revolta, uma dor que é sentida por todos os corpos femininos. O fim do casamento normalmente não é o fim das sequências de agressões e culmina com o ato extremo do machismo: já que a mulher já não pode ser seu saco de pancadas, não serve mais para o covarde. E assim elas morrem indefesas.

Até o desfecho trágico, a catadora de recicláveis que morava na Estrutural fez pedidos de socorro, boletins de ocorrência e recebeu medidas protetivas, retiradas por medo. Andreia foi a 25ª vítima de feminicídio do Distrito Federal só este ano. Isso não pode significar apenas uma estatística para ser usada para construir políticas públicas, ainda que isso seja importantíssimo. Há urgência. Há calamidade pública, senhor governador, senhores deputados distritais. O feminicídio é uma tragédia nacional, senhor presidente da República, ministros, ministras, deputados e senadores.

Sabemos que este é um problema complexo, enorme, fundado em um machismo estrutural, que não se resolve em uma geração. Mas não podemos esperar resolver a causa para acabar com a matança de mulheres no Distrito Federal. O Estado precisará intervir, assegurar a proteção, e a sociedade precisa não só cobrar, mas ajudar a denunciar, se organizar com medidas que permitam mulheres e homens comuns terem estratégias de auxílio a mulheres ameaçadas.

A morte de tantas mulheres está reverberando, está nas rodas de conversas, dos salões de beleza, no bate-papo no transporte, nas prosas dos cafés, nos supermercados. Mas não chega às altas rodas como um problema de solução urgentíssima.

Há iniciativas importantes, eu sei. O Tribunal de Justiça do DF e Territórios fez uma discussão interessante sobre a forma correta de divulgar; o Ministério Público e a OAB têm atuado também. A vice-governadora, Celina Leão, está empenhada e tem se mobilizado.

+ sobre o tema

Thânisia Cruz e a militância que profissionaliza

“O movimento de mulheres negras me ensina muito sobre...

Assistência ao parto avança no Brasil, mas pré-natal ainda preocupa

Dados da maior pesquisa sobre parto e nascimento no...

Cidinha da Silva: ‘Autores brancos são superestimados na cena literária’

Quando Cidinha da Silva empunha a palavra, o mundo se desnuda...

para lembrar

Thânisia Cruz e a militância que profissionaliza

“O movimento de mulheres negras me ensina muito sobre...

Assistência ao parto avança no Brasil, mas pré-natal ainda preocupa

Dados da maior pesquisa sobre parto e nascimento no...

Cidinha da Silva: ‘Autores brancos são superestimados na cena literária’

Quando Cidinha da Silva empunha a palavra, o mundo se desnuda...
spot_imgspot_img

Thânisia Cruz e a militância que profissionaliza

“O movimento de mulheres negras me ensina muito sobre o ativismo como uma forma de trabalho, no sentido de me profissionalizar para ser uma...

Assistência ao parto avança no Brasil, mas pré-natal ainda preocupa

Dados da maior pesquisa sobre parto e nascimento no Brasil mostram avanços expressivos na prática hospitalar. A realização de episiotomia, o corte do canal vaginal com...

Cidinha da Silva: ‘Autores brancos são superestimados na cena literária’

Quando Cidinha da Silva empunha a palavra, o mundo se desnuda de máscaras e armaduras: toda hierarquia prontamente se dissolve sob sua inexorável escrita. Ao revelar...