“As Divas Negras no Cinema Negro Brasileiro” e a “kineasta” inglesa Vik Birbeck

MAIS UM RESGATE DO ACERVO CULTNE

Vik Birkbeck no Flash de Amaury Jr falado sobre o seu documentário “AS DIVAS NEGRAS DO CINEMA BRASILEIRO”

por Marcos Romão, do Mamapress

Vik Birbeck eu poderia dizer, é a mulher inglesa que renasce no berço do movimento negro e no movimento indígena contemporâneo brasileiro.

Chegou ao Brasil em pleno governo Geisel em 1975.

A partir de 1981, já lado de seu então companheiro Adauto dos Santos, o conhecido cineasta e jornalista Ras Adauto que hoje vive em Berlim, Vik Birbeck imergiu com sua câmera no invisível mundo negro e indígena no Brasil.

Com sua câmera nos ombros documentou que se passava no Brasil da abertura, como ela própria fala, “abertura” do Geisel. Imergiu e ficou e, só vai na Inglaterra de visita.

Criou com Ras Adauto a empresa de produção de vídeos “Enugbarijô Comunicações”, e circularam como peixes dentro d´água, pelos movimentos sociais, principalmente dos negros e dos indígenas no Brasil.

Teve assim a oportunidade de participar e ser uma das principais motoras e testemunhas dos documentários, que retratam as ações artísticas, culturais e políticas dos negros e dos índios do Brasil, numa época em que nem se sonhava que um dia surgiria “smartphones”.

As televisões, o o cinema apresentavam, como ainda apresentam o negro e índio como personagens de coro grego, que mudos ficam, ao fundo dos nos eventos sociais, culturais e políticos do país e nos teatros e filmes da vida.

Grandes manifestações sociais que eclodiam pelo país na década de 80, não apareciam nas telinha globais, mas Vik e Adauto, como era conhecido o casal de jovens cineastas na época, lá estavam imersos no seio do movimento negro com as câmaras nos ombros e nas mãos, sempre remando contra o vento do “mainstream”  visual brasileiro predominantemente branco.

Ouso até dizer que sem o trabalho de documentação do protagonismo negro, realizado por Vik&Adauto, que vem sendo resgatado pela inciativa negra,“Acervo Cultine”, nossos netos digitalizados de hoje poderiam dizer que estaríamos contando lorotas. Pois até hoje a história da movimentação política dos negros no Brasil, não é relatada nas resenhas anuais que as TVs  apresentam em suas retrospectivas de ano novo. Mesmos nos nossos tradicionais rituais de oferendas à Yemanjá no Ano Novo, a cada ano ficamos cada vez mais desaparecidos.

Sem esta dupla e todos os fotógrafos e cineastas negros e negras das décadas anteriores, seríamos uma lenda e, sem ironias, as negras  e os negros do Brasil não passariam de “Fada Morgana inglesa”.

Tristes trópicos em em que até os ingleses veem o racismo que o branco brasileiro recusa ver.

Quem estava por trás das câmaras, finalmente apareceu.

O Acervo Cultne nos resgata em 2015 um vídeo com uma entrevista dada por Vik Birbeck, para Amaury Jr em 1989 .

É uma joia da história do processo de documentação sobre o que negras e negros faziam na década de 80 e antes. Fala do documentário internacionalmente premiado, “As Divas Negras no Cinema Negro Brasileiro”, em que as protagonistas são artistas negras do cinema e do teatro que desde a década de 50 se projetaram no cenário artístico nacional e internacional, mas que ao contrário das artistas brancas, vivem em sua maioria no ocaso e no esquecimento, salvo raras exceções.

Em suas palavras Vik afirma na entrevista em 89: ” Ruth de Souza” foi a pioneira no cinema nacional. Levou o cinema brasileiro para fora, ganhou em Cannes o prêmio de melhor atriz com “Sinhá Moça” em 1953, projetou-se nos anos 50 e 60, e agora está relegada a papéis pequenos em novelas, e isto é um absurdo, pois ela é tão atriz como Fernanda Montenegro…”

A história de Vik Birbeck e de seu olhar de mulher inglesa imersa na cultura indígena e negra do Brasil, é um retrato de como um olhar sobre a realidade brasileira, que torna invisível o protagonismo dos negros e dos índios, pode se descolonizar e mostrar o que está na cara e que ninguém vê na “TELINHA”.

Na própria entrevista podemos perceber o “incômodo” demonstrado pelo entrevistador branco brasileiro, menos familiarizado do que a cineasta já abrasileirada, com a realidade das negras e dos negros no Brasil.

Para termos uma visão melhor da importância que Vik Birbeck e de Ras Adauto tiveram para manter a memória e tornar visível o protagonismo de negras e negros no Brasil na história artística, cultural e política do Brasil, apresentamos aqui na Mamapress, “As Divas no Cnema Negro Brasileiro”, em cinco episódios digitalizados e  divulgados pelo Acervo Cutine,coordenado pelo também cineasta e ativista negro Asfilófio de Oliveira Filho, mais conhecido como Don Filó.

Documentário “As Divas Negras do Cinema Brasileiro” produzido pela Enugbarijô Comunicações em 1989.

Entrevistas e performances com atrizes negras de cinema, teatro e televisão que narram suas vidas, carreiras, discriminações e lutas no mundo artístico brasileiro. Estrelando as atrizes Zezé Motta, Ruth de Souza, Léa Garcia, Zenaide Zen e Adele Fátima, além da ativista Lélia Gonzáles.

Direção:Vik Birckbeck e Ras Adauto

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