campanha “Racismo virtual, as consequências são reais”, da ONG de mulheres negras Criola, do Rio de Janeiro, emite algumas mensagens importantes para a sociedade brasileira.
Por Cidinha da Silva Do DCM
Trata-se de uma ação aparentemente simples que começou pela identificação de comentários racistas postados no Facebook, dirigidos à jornalista Maria Júlia Coutinho, da TV Globo. Prosseguiu com a localização georreferencial das postagens por meio da ferramenta GeoTag e finalizou com a instalação de outdoors nas regiões de origem dos comentários.
Eis a primeira mensagem: se uma ONG consegue localizar pessoas ou grupos racistas em distintos lugares no Brasil, por que a polícia por meio de seu sistema complexo e inteligente de rastreamento não conseguiria?
Outra mensagem demarca o lugar da sociedade civil organizada que, a partir dos anos 1990, vem mostrando aos governos como se faz e ocupa vazios deixados pelo Estado, no que tange a políticas públicas diversas de Direitos Humanos.
A terceira é que os métodos de enfrentamento do racismo precisam ser consonantes com o século XXI e suas tecnologias. Ainda mais no Brasil, país no qual a consciência sobre a vigência do racismo, seu modus operandi e danos decorrentes ainda se restringe às pessoas alvejadas por ele. A internet atinge milhões de pessoas, potencializa agressões, mas é vocacionada, igualmente, para espalhar sementes educativas.
Veja-se o exemplo do projeto PLP 2.0 (Promotoras Legais Populares) das ONGs Geledés – Instituto da Mulher Negra (SP) e Themis – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero (RS), vencedoras de concurso promovido pelo Google. As duas instituições estão desenvolvendo um aplicativo para apoiar mulheres vítimas de violência doméstica. O programa aciona diretamente as redes de atendimento (delegacias, Defensoria Pública, etc), grava áudio e vídeo pelo celular, constituindo assim, a prova do crime e agilizando a resposta às mulheres agredidas.
Embora saiba-se que o racismo é um comportamento socialmente discriminável, com o qual ninguém, além dos racistas declarados, quer se identificar, a quarta mensagem aponta a necessidade de criar uma opinião pública favorável, com características de massa, para combatê-lo de maneira mais eficaz.
Para deflagrar processos educativos em casa, na família, na escola e em outros meios de interação social, além da superficial e protocolar recriminação a atos racistas. Também para impulsionar o aperfeiçoamento de instrumentos legais de tipificação e punição ao crime.
Por fim, as mulheres negras definitivamente entraram na pauta como sujeitos políticos ativos e plenos de direitos. E sua atuação não tem deixado pedra sobre pedra, nem espaço para que os racistas manipulem suas máquinas digitais debaixo da cama. As coisas estão mudando e serão forçadas a mudar mais.