Associação dos Mestres e Maestros do Candomblé Brasileiro é fundada durante encontro inédito em MG

Homenagem à ogãs, debate sobre intolerância religiosa e registro audiovisual fizeram parte da programação que se encerrou neste domingo, em Contagem

por Zu Moreira via Guest Post para o Portal Geledés

Iniciativa inédita, um grupo de ogãs criou neste domingo (19) a Associação dos Mestres e Maestros do Candomblé Brasileiro (AMMCB). O objetivo da organização religiosa é promover o Candomblé por todas as regiões do país. A diretoria é constituída por 12 membros de vários Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Mato Grosso. O ogã é um cargo em que uma das funções é zelar pelo terreiro onde é feito o culto. Outra característica é que o ogã não incorpora.

A assinatura da ata de posse foi realizada durante o Encontro dos Mestres e Maestros do Candomblé, realizado no fim de semana na Escola Municipal Heitor Vila Lobos, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. No evento foram discutidos temas como a linguagem do candomblé, a história dos caboclos, a necessidade de proteção à natureza, tradições, ancestralidade e intolerância religiosa. A iniciativa é do grupo Afoxé Bandarerê, bloco carnavalesco formado pelos pais e filhos de santo, em parceria com a Prefeitura de Contagem. O encontro recebeu o apoio do Governo Federal, do Governo de Minas Gerais e da Prefeitura de Nova Lima.

Para o sociólogo Marcos Cardoso Martins, o evento contribui para a reafirmação da identidade negra, porque valoriza a tradição, a cultura e a religiosidade de matriz africana. “O encontro também é uma oportunidade de pessoas que não pertencem ao Candomblé conhecerem a religião, o que ajuda para o combate à discriminação, ao preconceito e à intolerância religiosa”, disse Cardoso.

Troféu Axogum Paulo Afonso

A programação também incluiu a entrega do Troféu Axogum Paulo Afonso Moreira aos mestres e maestros de destaque na cultura de matriz africana. Com 37 anos de iniciação no Candomblé, Paulo Afonso Moreira é um dos ogãs que mais se destacam na luta pela preservação da tradição religiosa. Advogado, o Axogum integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG.

“Fico muito feliz pelo reconhecimento e espero que no futuro as pessoas possam andar livremente nas ruas, com suas roupas tradicionais, sem serem apedrejadas”, afirmou Paulo Afonso Moreira, em referência a uma criança de 11 anos que no mês passado sofreu ferimento ao ser alvo de uma pedra, no Rio de Janeiro.

Durante o encontro, uma equipe de audiovisual coordenada pela fotógrafa Júlia Lanari grava depoimentos de mestres como Mobá Sidney (SP), Euandilu (RJ) e Mãe Norma de Nanã (BH), representando a umbanda. O objetivo é produzir um material didático sobre a religião de matriz africana, seguindo a Lei 10.639 que prevê o ensino obrigatória da história da África.

Para o organizador do encontro, Márcio Eustáquio Antunes de Souza (Tata Kamus’ende), o poder público deve cumprir a legislação e ampliar o acesso às informações sobre temas como a religiosidade africana. “Tomara que a área de Educação do novo governo Estadual consiga cumprir a lei e promover a igualdade racial e religiosa”, disse.

Confira o nome dos diretores da AMMCB: Presidente – Sidney Leal de Oliveira; Vice- Presidente – Kléber Carreiras; 1° Secretário – Aldo Durante;  2° Secretário – Rafael Chagas Pereira Lopes; 1° Tesoureiro – Jupirani Devillart Carreira; 2º Tesoureiro – Luiz Carlos da Costa; Conselho Fiscal: 1º Membro – Mário Eustáquio Souza;  2º Membro – Ricardo Tenório; 1º Suplente – João de Andrade Monteiro; 2º Suplente – Fernando Antônio de Mello.

 

Fotos anexa: André Fossati/Divulgação

1 – Diretoria AMMCB

2 – Entrega do Troféu Axogum Paulo Afonso (de terno branco)

3 – Apresentação Afoxé Bandarerê

3_Enc_Mestres_e_Maestros_Andre_Fossati_0001 3_Enc_Mestres_e_Maestros_Andre_Fossati_0002 3_Enc_Mestres_e_Maestros_Andre_Fossati_0005

+ sobre o tema

Rede social para negros quer dar visibilidade a políticos e empreendedores

A Black & Black, uma rede social brasileira indicada...

Exposição na Casa França Brasil conta a história do negro no Rio

Mostra reúne 500 peças, como bronzes do Benin, máscaras...

Quilombolas entrarão na justiça por danos morais

Federação Nacional de Associações Quilombolas (FENAQ) entrará com uma...

para lembrar

Aluno é barrado em escola por usar trajes de candomblé

Mãe diz que menino foi proibido de frequentar as...

O que ori não quer…, por Sueli Carneiro

Ogun, na tradição religiosa negro-africana, é o dono dos...

Rio de Janeiro registrou 800 atendimentos de intolerância religiosa em 2017

Média é de dois casos por dia. Intolerância contra...

“Fui repelida”, diz candomblecista após filha ter matrícula negada

Uma mãe candomblecista que encontrou dificuldades para matricular a...
spot_imgspot_img

Na mira do ódio

A explosão dos casos de racismo religioso é mais um exemplo do quanto nossos mecanismos legais carecem de efetividade e de como é difícil nutrir valores...

Intolerância religiosa representa um terço dos processos de racismo

A intolerância religiosa representa um terço (33%) dos processos por racismo em tramitação nos tribunais brasileiros, segundo levantamento da startup JusRacial. A organização identificou...

Intolerância religiosa: Bahia tem casos emblemáticos, ausência de dados específicos e subnotificação

Domingo, 21 de janeiro, é o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Nesta data, no ano 2000, morria a Iyalorixá baiana Gildásia dos...
-+=