O historiador e diretor-executivo da Anistia Internacional no Brasil, Atila Roque, 54, escreveu artigo para a Folha de S. Paulo dizendo que apesar dos avanços conquistados em termos de redução da pobreza extrema, continuamos convivendo com um deficit de justiça que compromete o futuro do Brasil. Para ele os dois principais desafios do país são: garantir os direitos de povos indígenas, populações quilombolas e urbanas impactadas por planos modernizantes; e os sistemas de Justiça e segurança pública: “O que vemos são sistemas que aplicam pesos e medidas diferenciados de acordo com a origem e cor, local de moradia ou classe social dos cidadãos”, afirmou
Do Brasil247
Em artigo publicado ontem (11) na Folha de S. Paulo, Atila Roque – 54, historiador e diretor-executivo da Anistia Internacional no Brasil –, disse: “apesar dos avanços conquistados em termos de redução da pobreza extrema, continuamos convivendo com um deficit de justiça que compromete o futuro. A proteção e realização de direitos segue uma lógica seletiva, que exclui parcelas de nossa sociedade. A agenda de direitos humanos é a principal fronteira a ser expandida e consolidada nos próximos anos”.
Para ele os dois principais desafios do Brasil são: garantir os direitos de povos indígenas, populações quilombolas e urbanas impactadas por planos modernizantes, frutos de “um certo desenvolvimentismo”; e os sistemas de Justiça e segurança pública: “O que vemos são sistemas que aplicam pesos e medidas diferenciados de acordo com a origem e cor, local de moradia ou classe social dos cidadãos. Nos últimos dez anos, por exemplo, a violência letal entre os jovens brancos caiu 32,3% e entre os negros subiu 32,4%. Ou seja, os homicídios de jovens negros é um dos principais pilares que sustentam o alto índice de assassinatos”.
Em entrevista o El País, em julho do ano passado, Atila Roque afirmou que o assassinato do seu pai, de certa maneira, o levou até onde está hoje, à frente de uma organização internacional, com 20 pessoas na sua equipe e 3,5 milhões de reais de orçamento para denunciar as violações de direitos humanos cometidas em um país de 200 milhões de habitantes. “Essa morte me marcou profissionalmente. Naquela altura acabava de me formar em história e minha ideia era seguir a carreira acadêmica, mas ao ver meu pai morrer dessa forma abrupta eu não consegui sair do Rio. Ao ficar, eu tive que procurar uma alternativa para viver, mesmo porque foi um golpe financeiro na família. Foi aí que o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) me fez minha primeira proposta de emprego sério na sua campanha nacional pela reforma agrária”.
Atila conclui ao El País: “Temos muito que fazer. Desnaturalizar a violência e romper o silencio é o maior desafio. Vivemos um excesso de complacência em relação à violação de direitos, e ai a responsabilidade não é só do Governo, senão dos atores privados, é da mídia, das pessoas que tem voz… Nossos grande desafio é a cultura da indiferencia e o olhar seletivo que a sociedade tem sobre quem sofre violações de direitos humanos. Se for branco e rico vira um tema de conversação, agora se isso acontece na periferia ninguém se importa. A violência seletiva no Brasil está no nosso foco.”