A covarde morte da dentista de São Bernardo do Campo provocou revolta, indignação e tristeza. O fato, condenável, teve destaque nos principais veículos de comunicação. Por acaso vi um trecho de uma matéria em que a repórter falava, ao vivo, da delegacia que acabara de distribuir retratos falados dos suspeitos. Em seguida, a apresentadora do programa vespertino retornou do estúdio e, sem qualquer reflexão, deu sequência ao bate-papo agradável sobre relacionamento amoroso entre casais com grande diferença de idade, que vinha trocando com três felizes convidados.
Simples assim, o episódio criminoso perverso foi tratado como um mero acontecimento do cotidiano, apenas mais um fato
corriqueiro que emerge de uma sociedade que escolheu aplicar nas pessoas as regras do mercado consumidor. Os bandidos deste caso utilizaram essa mesma lógica para atear fogo na vítima por ela ter apenas R$ 30,00 de saldo bancário.
Para esses profissionais do crime, ela foi morta porque era um “produto” de baixíssimo valor agregado em um mundo em que ser humano vale quase nada.
Desde os primórdios convivemos com distintas formas de estratificação social, por meio das quais pessoas são discriminadas pela impossibilidade de consumir, por integrar classes menos favorecidas ou, simplesmente, pelas etnias as quais ertencem, as regiões que residem ou tantos outros rótulos criados para definir os tais públicos-alvo que interessam ao mercado.
Esquecemos que a raça humana é uma só. Habitamos a mesma casa e todos deveriam ter o direito e as condições para viver com dignidade. No meu entendimento, o maior desafio a ser superado neste século está na compreensão de que formamos um único mundo e um único planeta. Cada um de nós é único, e tem essa existência para cumprir a sua missão de vida. Um bom e sistemático exercício pode estar em responder a três perguntas cruciais, as quais nos desafiam todos os dias: de onde viemos, para onde vamos e porque estamos aqui.
Além disso, será que seremos capazes de quebrar os paradigmas que transformaram pessoas em meros consumidores e as vidas humanas em produtos descartáveis? Por aqui, fico. Até a próxima.
Por: Por Leno F. Silva