Beleza além dos padrões

Artista e produtor cultural Marcos Antonio da Costa leva série fotográfica sobre mulheres negras para a Espanha

Série fotográfica contrapõe-se ao ideal de beleza branca difundido pela mídia

Marcos Antonio da Costa: engajado na valorização da cultura afro-brasileira

Expor no exterior vai, aos poucos, deixando de ser um projeto inalcançável para os artistas londrinenses. De dois anos para cá, periodicamente somos informados de que fulano está levando seus trabalhos para a França ou que sicrano emplacou uma mostra de suas pinturas na Itália.

O nome da vez é Marcos Antonio da Costa, que embarca na próxima semana para a Espanha, onde – no próximo dia 20 – abre uma exposição fotográfica em que retrata mulheres negras londrinenses. A exposição ficará em cartaz durante três semanas sob curadoria do Departamento de Cultura de Vila Franca Del Penedés, na região metropolitana de Barcelona. O Ministério da Cultura, do Brasil, custeará a viagem e outras despesas.

marco antonio costa 2”A exposição é o resultado estético de minha pesquisa para o trabalho de conclusão de curso em Artes Visuais na Unopar (Universidade Norte do Paraná), no qual desenvolvo uma reflexão sobre a ausência da imagem da mulher afro-brasileira na mídia e especialmente na arte. Trata-se de um projeto de ação afirmativa no combate ao racismo e à discriminação”, explica ele.

Para o artista, a fotografia atual no mundo ocidental tornou-se um instrumento imagético que tem funcionado como suporte para a difusão de um ideal de beleza branca, eurocêntrica e padronizada. ”A imagem da mulher e do feminino sempre esteve associada à da beleza, mas hoje há cada vez menos tolerância para os desvios nos padrões estéticos socialmente estabelecidos”, salienta.

”Nesse sentido, e nacionalmente falando, tomamos como padrão as características eurocêntricas femininas que são propagadas e cultuadas como símbolos de beleza em revistas, no cinema e na televisão, enfim nos diversos suportes onde a mídia se configura. Estranhamente e ideologicamente a beleza eurocêntrica se torna ícone genuinamente brasileiro, com muito mais força até do que em muitos países europeus. A imagem da mulher negra brasileira, quando existiu ou quando existe é sempre sub-representada. Essa ausência denota a desvalorização da mesma em nossa escala social – apenas um ser que ora foi tratado como mero objeto ou então uma simples serviçal. Minha exposição pretende se contrapor a isso, criando uma visibilidade merecida e por tanto tempo negligenciada.”

marco antonio costa 3Costa trabalha com várias linguagens artísticas. É ator, diretor, dramaturgo e cenógrafo. Recentemente organizou o 1º Prêmio Londrina de Arte Contemporânea, que culminou com um salão no Museu de Arte. Atualmente preside a ONG Aluá Arte Afro-Brasil e dirige a Cia Cabula de Teatro Afro-Brasileiro. Foram suas atividades teatrais, aliás, as responsáveis pelo intercâmbio cultural com os espanhóis.

Os contatos tiveram início em 2010, quando esteve em Barcelona e conheceu integrantes da associação ”La Arte contra La Barbarie” – um coletivo que reúne artistas engajados de vários países da Europa. ”Na ocasião, discutimos a necessidade da ampliação de um teatro político e pedagógico. Apresentei-lhes estudos parciais referentes ao poder da imagem na sociedade contemporânea que falava da influência da imagem na vida da mulher afro-brasileira. Eles se interessaram pelo tema e surgiu a ideia da exposição”, conta.

Futuramente, Costa planeja mostrar a série fotográfica também no Brasil.

 

 

Fonte: FolhaWeb

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