Bienal de São Paulo terá 30% de artistas da década de 1970 e indígenas em sua exposição

Diante do anúncio dos 91 participantes da próxima Bienal de São Paulo, feito nesta quinta, a mostra começa a ficar mais clara.

A exposição dará ênfase a profissionais de meia-idade —30% dos participantes nasceram na década de 1970— e a “artistas históricos”, expressão que o curador-geral, o italiano Jacopo Crivelli Visconti, usa para se referir a artistas nascidos nas primeiras décadas do século 20, como é o caso do fotógrafo Pierre Verger e do produtor musical jamaicano Lee “Scratch” Perry, dois dos 35 nomes anunciados.

“Pode ser que a geração dos anos 1970 tenha uma presença um pouco maior porque é a geração de vários de nós do núcleo curatorial. Talvez tenha mais uma afinidade ou um conhecimento da produção dos artistas desse momento”, afirma Visconti.

Tanto ele quanto os curadores convidados, Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez, nasceram nessa década. O curador adjunto, Paulo Miyada, é de 1985 —desta década, há 23 participantes na mostra, cerca de 25% do total.

Da geração dos anos 1970, a norueguesa Mette Edvardsen traz um trabalho coreográfico em que um grupo de performers escolhe uma série de livros com os quais cada um deles tem certa afinidade. Ao mesmo tempo que os leem, eles os decoram, para poder depois recitá-los de memória para os visitantes da exposição.

Obra ‘La Cena’, de 1988, da artista cubana Belkis Ayón (Foto: Cortesia de Belkis Ayón Estate/ José Figueroa)

Já a britânica Olivia Plender apresenta uma videoinstalação inédita e feita sob encomenda da Bienal, um trabalho criado a partir do vídeo “Hold Hold Fire”, que registra um grupo de mulheres numa oficina de autodefesa, aprendendo técnicas usadas por ativistas feministas de gerações anteriores para combater a violência policial.

A 34ª edição do evento —que ocupará o pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera, em São Paulo, entre 4 de setembro e 5 de dezembro— terá ao todo nove participantes indígenas, vindos de lugares como Chile, Colômbia, Estados Unidos e Groenlândia, caso da artista Pia Arke, outro nome recém-divulgado. Do Brasil, foi anunciada a fotógrafa e professora mineira Sueli Maxakali.

Os trabalhos dos povos originários, que representam cerca de 10% da mostra, não estarão num núcleo separado, mas sim no fluxo normal da exposição, diz Miyada.

Há aqui uma sintonia da Bienal com a participação cada vez maior desses artistas no circuito de arte como um todo, e também uma continuidade do que já se viu na mostra “Vento”, uma prévia da Bienal realizada no ano passado, que trouxe, por exemplo, uma série de pinturas de Jaider Esbell, indígena da etnia makuxi e nome importante no meio.

Ao todo, 39 países de quase todos os continentes estarão representados nesta edição, e há um equilíbrio quase igualitário na quantidade de artistas homens e mulheres. Cerca de 4% dos participantes se identificam como não binários.

Mesmo com a pandemia, Visconti diz acreditar que será possível abrir a mostra em setembro, seguindo os protocolos de segurança, embora reconheça que a situação pode fugir do controle. A Bienal foi inicialmente adiada em um mês e depois finalmente passada para este ano, devido ao coronavírus.

Segundo o curador-geral, a Fundação Bienal terá capacidade de inaugurar de forma segura uma mostra de grandes proporções e volume de público já que se baseia na experiência do ano passado com “Vento”, além de ter acompanhado as medidas de segurança tomadas por instituições de arte na cidade.

Junto com o anúncio dos nomes, a Bienal publicou um catálogo digital acessível gratuitamente com contribuições dos artistas que participarão do evento.

Chamado “Tenteio” —nome inspirado na obra do poeta amazonense Thiago de Mello, assim como o título desta Bienal, “Faz Escuro Mas Eu Canto”—, a publicação não é uma compilação das obras que estarão expostas, mas sim de narrativas visuais e textuais formadas por desenhos, fotografias, poemas e textos compartilhados pelos artistas.

Esse conteúdo será incorporado ao catálogo impresso da mostra, a ser lança do em setembro de 2021.

“Tenteio” “não explica, não resolve e não descreve a exposição”, afirma Miyada, embora logicamente esteja conectado à mostra, pois reflete os preceitos de “relação” e ensaio aberto, nortes da curadoria para a exposição principal.

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