Blackface: Programa ‘Mais Você’ é acusado e racismo

13/12/16
Natália de Sena

A estreia da 21ª edição do quadro “Jogo de Panelas”, exibido no programa Mais Você e apresentado por Ana Maria Braga, gerou polêmica nesta segunda-feira (12). O barbeiro Willian, primeiro anfitrião da temporada, escolheu como tema do jantar “sexo oposto”, no qual homens deveriam se fantasiar de mulheres e mulheres de homens.

Com um discurso de valorização da igualdade de gênero, o participante, no entanto, incorreu em um erro grave ao se caracterizar como “nega maluca”, figura estereotipada que reforça representações racistas sobre mulheres negras.

Repercussão nas redes sociais

A escolha do figurino não passou despercebida pelo público. Internautas criticaram duramente a produção do programa e denunciaram o uso de blackface.

Por que blackface é racismo?

O termo blackface se refere à prática de pessoas não negras se caracterizarem com traços estereotipados atribuídos à população negra — pele pintada de preto, boca vermelha exagerada, cabelo crespo caricatural. No Brasil, a figura da “nega maluca” tornou-se comum em carnavais, reforçando estigmas da mulher negra hipersexualizada e ridicularizada.

Apesar de amplamente criticada em debates acadêmicos e ativistas, essa prática segue sendo naturalizada em diferentes contextos. No exterior, casos semelhantes também têm provocado reações:

  • Amsterdã: protestos questionam a figura do ajudante do Papai Noel, Zwarte Piet, retratado com características racistas.

  • Estados Unidos: no século 19, o blackface foi popularizado em minstrel shows e, até meados do século 20, esteve presente em óperas e teatros, sendo abolido somente com a ascensão do Movimento dos Direitos Civis.

Responsabilidade da produção

Ainda que Willian possa não ter plena consciência do peso histórico da fantasia escolhida, especialistas e movimentos sociais apontam a responsabilidade da produção do programa em filtrar conteúdos e evitar a veiculação de práticas ofensivas.

A crítica recai sobre o fato de que a maior emissora do país, com amplo alcance e recursos, deveria contar com equipes preparadas para avaliar conteúdos e evitar a perpetuação de estereótipos racistas em horário nobre.

Compartilhar