Brasil: homens brancos do 1% mais rico têm mais renda que todas as mulheres negras do país

Pesquisadores da USP investigam recorte racial e observam que sete em cada 10 brasileiros mais pobres são negros

Em estudo que avalia a renda dos brasileiros sob um recorte racial e de gênero, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram mais uma estatística entre aquelas que expõem o quadro da desigualdade no país: 705 mil homens brancos que integram o grupo do 1% mais rico da população detêm 15,3% da renda nacional.

O percentual significa um montante maior que o de todas as brasileiras negras adultas juntas, que compõem 14,3% da renda.

Os dados estão expostos no levantamento intitulado Quanto fica com as mulheres negras? Uma análise da distribuição de renda no Brasil, realizado pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made), ligado à Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP.  

O estudo foi desenvolvido pelos pesquisadores Ana Bottega, Isabela Bouza, Matias Cardomingo, Luiza Nassif Pires e Fernanda Peron Pereira.

Para tecer as análises, o grupo associou informações do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), da Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (POF-IBGE) e do Sistema das Contas Nacionais, também do IBGE.  

Entre outras coisas, o levantamento mostra que a renda média mensal dos homens brancos que integram o 1% mais rico da população é de R$ 114.944,50, enquanto entre as mulheres negras o indicador registra renda de R$ 1.691,45.

Este último grupo representa 26% da população adulta do Brasil. Já os homens brancos que estão entre os mais abastados ocupam 0,56% do contingente nacional.

A concentração de renda identificada pelos pesquisadores também está expressa em outros números. O estudo mostra, por exemplo, que os 10% mais ricos da população em geral respondem por 54% da renda nacional, enquanto o 1% mais rico da pirâmide social brasileira abocanha 24,6% da renda total.

Já o grupo do 0,1% mais abastado do país representa 12,2%, o correspondente a quase um oitavo da renda.

No estudo, os pesquisadores lembram que a adoção de uma agenda antirracista tem sido demandada como prioridade na concepção de políticas públicas no Brasil e no mundo.

Eles destacam que essa tendência “reflete movimentos da sociedade civil, das organizações políticas e da máquina pública voltados a discutir e superar o racismo fundante”.

“Como parte desse movimento, novos dados permitem calibrar e compreender a relevância da construção de uma institucionalidade antirracista, que leve esses elementos em consideração da arrecadação até o gasto”, encerram, ao mencionar a importância do levantamento do Made.

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