Antes de abrigar os principais prédios públicos do país, a Esplanada dos Ministérios era um campo aberto onde descendentes de escravizados levavam o gado para pastar. Contudo a ideia que se consolidou no imaginário coletivo é a de que a moderna capital da República foi erguida em território livre e desocupado no Planalto Central.
Na realidade, pessoas e culturas já instaladas na região foram ignoradas para que se criasse a cidade. O mesmo se deu com os candangos (trabalhadores que ergueram a cidade), para os quais não foi previsto espaço na nova capital.
Brasília, fundada em 21 de abril de 1960, chega aos 64 anos como a cidade mais segregada do mundo (segundo a OCDE). Não por acaso, a maioria (57,4%) da população do DF se autodeclara negra (Mapa das Desigualdades) e a maior favela do país (Sol Nascente) está situada a 35 quilômetros do centro.
Atualmente, o Distrito Federal possui em seu entorno quatro quilombos: Moinho, Kalungas, Flores e Mesquita. Duas localidades fora do Plano Piloto (SCIA e Estrutural) concentram 75,4% das pessoas negras, apresentam a menor renda domiciliar (inferior a dois salários mínimos) e a maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes (50,8).
Cotidianamente, Brasília atrai pessoas de todo o país e do mundo inteiro. No entanto poucos conhecem a participação de pretos e pardos na constituição do DF em razão do apagamento de personagens e do protagonismo negros dessa história.
Para celebrar o aniversário da capital, sugiro uma visita guiada por esse universo ocultado. O tour organizado pela agência Me Leva Cerrado é capaz de revelar a Brasília Negra ao passar por locais (como o Museu Vivo da História Candanga e a Galeria dos Estados) que guardam uma parte da história que a história oficial quis apagar.
Olhar Brasília com uma visão crítica e antirracista permite enxergar o papel fundamental do negro na construção não só da capital federal, mas de todo o Brasil.