Camiseta com logo da Febem naturaliza a violência,diz Douglas Belchior

Para o professor da Uneafro, a Febem é uma entidade que significa terror e violência para o jovem. E caso envolvendo a grife A Mulher do Padre revela a “ferocidade de determinadas narrativas”

Por Luciano Velleda para RBA

Belchior diz que as empresas precisam valorizar os direitos humanos. “Esse produto está na contramão disso” Foto: TALITA KOZAN

Uma espécie de “gourmetização da violência brasileira”. Assim Douglas Belchior, formado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e fundador e professor na rede de cursos da Uneafro-Brasil, define o episódio envolvendo a grife A Mulher do Padre, que colocou à venda em suas lojas uma camiseta branca com logotipo da extinta Febem, ao preço de R$ 96. Após péssima repercussão nas redes sociais, a empresa anunciou a retirada do produto de circulação no último domingo (28).

“Isso demonstra uma característica própria do racismo brasileiro que é o traço da falta de sensibilidade, muito presente, sobretudo, na classe média, de não ter a sensibilidade de perceber a ferocidade de determinadas narrativas, determinados conteúdos, uma condição quase natural da violência”, analisa Douglas Belchior, ex-integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda).

Para ele, usar como suvenir uma camiseta com o símbolo da Febem, “uma entidade que significa terror e violência para o jovem”, é algo intolerável. Belchior ressalta ser preciso chamar a atenção de empresas e produtores de conteúdo para que seus produtos valorizem os direitos humanos, a diversidade, justiça, igualdade e tolerância, e não o contrário. “Esse produto está na contramão disso, é inadmissível.”

Segundo o ex-colunista da TVT, o caso das camisetas da grife A Mulher do Padre pode ser comparado com a campanha “somos todos macacos”, criada após o jogador Daniel Alves ter comido uma banana arremessada contra ele, numa partida de futebol, em 2014, e depois transformada em camiseta vendida pela grife do apresentador de televisão Luciano Huck. “Aquela foi uma campanha hipócrita. Não somos macacos coisa nenhuma, somos seres humanos”, critica.

Ao anunciar a retirada do produto de suas lojas e pedir desculpas pela fabricação da camiseta, a grife aprofundou a polêmica. Isso porque a empresa argumentou que a roupa integrava a linha Lost&Found – uma “marca de camisetas de uniformes de companhias aéreas, instituições, concertos musicais e muitas outras que remetem a um passado distante que fez parte das nossas vidas de alguma forma”.

Justificar que a Febem “fez parte das nossas vidas de alguma forma” fez aumentar as críticas contra a grife que, pouco depois, cortou esse trecho do seu pedido de desculpas.

Direitos humanos e redes sociais

Douglas Belchior acredita que as redes sociais, responsáveis neste caso pela propagação da informação relativa à camiseta com logotipo da Febem, não podem ser ignoradas como ferramenta de ação política, embora pense que não se deve ter ilusão sobre elas.

“Como não está no nosso controle, deve-se ter cuidado. Somos o lado mais fraco, estamos perdendo essa batalha. As redes sociais são mais utilizadas para conteúdo de ódio do que para a diversidade, inclusive até por questões financeiras. É uma relação de cuidado com o instrumento, que não substitui a rua, o trabalho corpo a corpo, sem ter a ilusão que as redes sociais ajudarão na nossa vitória, ao mesmo tempo sem deixar de usar”, avalia.

 

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