Quando voltou ao seu quarto de hotel, no Tivoli Mofarrej, na noite de sexta feira, dia 28, Carl Hart não acreditou no que viu. Seu nome por toda a internet brasileira e centenas de emails prestando solidariedade por conta da discriminação que sofreu em São Paulo. Uma discriminação que ele simplesmente não tomou conhecimento.
Surpreso com a repercussão, Carl Hart esclarece que, ao contrário do que dezenas de textos na imprensa divulgaram, não foi barrado na porta do hotel. E sua declaração sobre o abismo racial no Brasil durante a palestra no Seminário Internacional de Ciências Criminais, no mesmo hotel, não se relacionava com qualquer constrangimento que ele tenha sofrido. Mas com algo, em sua opinião, ainda mais grave: o racismo estrutural brasileiro. Que não recebe qualquer destaque, nem indignação pública, quando dirigido a pessoas sem o destaque ou a posição que ele ocupa.
Por Bruno Torturra, do Fluxo
Falando pela primeira vez à imprensa após o ocorrido, o professor Carl Hart veio ao Estúdio Fluxo para esclarecer o episódio e falar sobre o que considera mais importante nisso tudo.
Por enquanto, apenas em inglês. Legendas em português logo mais.
E abaixo, o mini doc que o Fluxo fez na passagem de Carl Hart ano passado. Onde fica bem mais claro o tipo de racismo que não se comenta tanto no Brasil.
Neurocientista americano nega ter sofrido discriminação racial em hotel
Do Extra
O neurocientista norte-americano Carl Hart negou ter sido barrado e sofrido discriminação racial no Hotel Tivoli Mofarrej, onde participou de um seminário promovido pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, nesta sexta-feira. Em entrevista ao site Fluxo, realizada neste sábado, o professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, esclareceu o ocorrido.
“O que aconteceu foi que, assim que cheguei ao hotel, na quinta-feira, fui direto ao toalete. Quando saí, os organizadores do seminário vieram até mim para se desculpar por algo que teria acontecido assim que entrei no hotel. Segundo eles, um segurança iria me abordar porque eu não parecia pertencer ao lugar. Mas eu não presenciei nada disso, foi uma pessoa que me falou”, explicou Hart.
Segundo o professor foi na noite de sexta-feira, após sua palestra, que descobriu que havia uma matéria afirmando que ele havia sido barrado no hotel. Hart contou que, depois disso, recebeu inúmeras mensagens, e-mails e ligações pedindo desculpas pelo suposto comportamento do segurança.
“Durante minha palestra, chamei atenção para a pouca quantidade de negros que participavam do seminário. Eram dois ou três, enquanto havia centenas de brancos. Não tinha relação nenhuma com o episódio do hotel, mas a reportagem associou as duas coisas. A matéria foi enganosa e viralizou. Eu quero que as pessoas entendam que, se tivesse sido discriminado, seria a primeira pessoa a falar sobre isso. E o Brasil tem sérios problemas de discriminação racial, então a indignação que sentiram em relação a mim deveriam expressar pelos próprios brasileiros. Não deveriam gastar essa energia comigo”, defendeu o professor.
Em nota, a direção do Tivoli São Paulo – Mofarrej informou que “são inverídicas as notícias veiculadas desde ontem que indicavam discriminação nas dependências do hotel com o neurocientista Carl Hart” e que “em nenhum momento houve qualquer tipo de abordagem ao senhor Carl por parte dos colaboradores do hotel”. Ainda de acordo com o hotel, “todas as imagens do circuito interno de segurança confirmam que Carl circulou pelas dependências do hotel sem ter sofrido nenhuma forma de constrangimento, por parte de colaboradores do Tivoli São Paulo – Mofarrej”.
A direção destacou que “o hotel tem como objetivo e hábito receber hóspedes e clientes de diversos países e em variadas ocasiões” e que “seus funcionários recebem treinamento constante para manter o alto padrão de serviço, para bem atender seus clientes garantindo qualidade,segurança e discrição”. Além disso, informaram que “o hotel não barra seus clientes”, mas “constantemente aborda todos os frequentadores para direcioná-los corretamente aos seus destinos”. O hotel reforçou que é absolutamente contra qualquer forma de discriminação.
O neurocientista é professor da Universidade de Columbia, onde conduz pesquisas e leciona disciplinas de neurociência, psicologia e farmacologia. Hart é conhecido por estudar as interações entre as drogas de uso recreativo e fatores neurobiológicos e do meio ambiente que medeiam o comportamento e psicologia humanos. A palestra do neurocientista, realizada durante o 21° Seminário Internacional de Ciências Criminais, foi intitulada “Criminalizar o uso de drogas para marginalizar ainda mais”.