Carlinhos Brow, você não representa os negos e as negas do Brasil…

Ontem eu tive a péssima ideia de assistir algumas partes do programa global Encontro, onde estavam Miguel Falabella e “suas negas” falando sobre a sua mais nova criação, aliás sua cópia mal formulada: “Sexo e as negas”.
de  para o Portal Geledés

Em algum momento ao ser questionado, de forma bem solidária, pela apresentadora Fátima Bernardes sobre o “descontentamento” de alguns internautas sobre a possibilidade de o programa “Sexo e as negas” possuir cunho racista e machista, Falabella deu uma justificativa tosca, dizendo que era uma brincadeira em cima do seriado estadunidense (adjetivo meu, pois ele utilizou americano para os Estados Unidos), Sexy and City e antes tinha pensado em fazer “Sexo e as loiras”, porque ele é suburbano, foi criado em Governador (deve ser Ilha do Governador – RJ) e tem vivência em comunidade porque foi vice-presidente (?) da Escola de Samba Unidos da Tijuca. Em resumo: ele acha que é uma homenagem às mulheres negras que lutam todos os dias e coisa e tal e tal e coisa.

Para ele eu digo: muito obrigada, enfia sua homenagem onde você quiser, menos na gente. Ok?

Mas falemos de Carlinhos Brow e de sua defesa asquerosa para com a elite aproveitadora. Brow, ao ser perguntando se sexo ainda é um problema no país, ele responde às seguintes pérolas carregadas de um palavreado bonito:

-na verdade não apenas sexo, mas neologismos e corruptelas. As pessoas confundem muito. Negas são todas as mulheres que amamos. Não tem nada a ver com tons de pele. Então: minha nega….meu nego…é o carinho…então isso é uma corruptela simples, de carinho…por quê? Todo mundo se atrai por todo mundo, mas num país miscigenado de sol todo mundo vai à praia um pouquinho buscar essa negritude, mas quando eu te chamo de nega, eu não tô te impondo um tom de pele ou uma cor qualquer tipo de preconceito.

Sério, Brow? E quando eu era criança que ouvia: aquela nega preta do cão! Era carinho e eu não sabia? Óh! Como sou uma tontinha! Ou então quando diziam: nega fedorenta. Ou quando um fulaninho falou a um amigo que tinha uma nega gostosa no trabalho dando em cima dele, era carinho dele com a menina negra? Óooh! Como sou difícil de compreender o óbvio. Você só faltou ressuscitar Gilberto Freyre e dá à voz para ele dizer: VIVA À DEMOCRACIA RACIAL BRASILEIRA.

Ao final Falabella ainda tentou amenizar dizendo que não quer com o programa dizer que não existem médicas negras, mas que é muito mais interessante retratar os problemas daquelas mulheres de comunidade. Faça-me o favor, viu! Brow disse que o programa era muito positivo, pois há tempos estamos pedindo que essas coisas fossem retratadas na tv. Eu não pedi para ser as negas da Globo, muito menos ter minha etnia ligada diretamente ao sexo. Isso é ideia de girico de Falabella e apoiada por você, um oportunista, infelizmente. Outro despropério foram “as negas” agradecendo o bom salvador (leia-se Falabella) por ele ter eleito as negas e não as loiras para seu conto fabuloso.

E para finalizar só tenho mais algo a dizer: obrigada, Carlinhos NADA Brow, você serve muito bem à elite branca e dominante.

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