Nós negros, não somos descendentes de escravizados no Brasil. Muito antes disso, na África e na Índia, fomos os primeiros criadores de grandes impérios (Tá Seti, Egito) e das maiores invenções da Humanidade (agricultura e pecuária) bem como das primeiras religiões. Mas os antigos africanos inventores da humanidade do homem, num misto de ingratidão, ignorância, insensibilidade, intolerância foram invadidos, dominados e explorados, escravizados pelo homem branco europeu, por quase 500 anos é por isso, principalmente, é que a África, a Índia, a Afroamérica (Brasil), são hoje regiões onde a população negra é, em sua maioria, pobre e miserável.
A morte de Zumbi em 1695, na Serra da Barriga, revela a contestação dos negros escravizados ao sistema de racismo, exploração e opressão do homem branco português. Durante o período escravista no Brasil, existiram quase 8000 quilombos: enfim, o negro sempre disse não ao Racismo e a Opressão. Em 1695, morreu o Zumbi soldado da causa da liberdade e da justiça; sua idéia ganhou a História e é símbolo de luta e resistência para todos aqueles, negros e brancos, que desejam uma sociedade justa, livre e fraterna.
Trezentos e dezesseis anos depois da morte de Zumbi dos Palmares, é muito difícil ser negro no Brasil, em Mato Grosso e em Rondonópolis. A pobreza e a miséria atingem 70% de nossa gente, o desemprego é maior entre os negros, assim como em geral se paga salários menores aos negros (principalmente às mulheres negras); a polícia, segundo a ONU (PNVD) mata mais de 70 negros a cada fim de semana em nosso país.
Sendo 65% da população, aos negros e brancos pobres é que são destinadas as piores escolas (escolas públicas periféricas, EJA, Provões) e as universidades inferiores (PROUNI). Recentemente, a UFMT preferiu aprovar a Reserva de Vagas (50% das vagas da UFMT) para os alunos que estudam na escola pública do período matutino e ainda com recorte de 30% para negros de classe média que estudam nesta instituição. Assim, mesmo existindo há oito anos o mecanismo de acesso, brancos pobres e negros pobres continuarão sem ter ingresso garantido na UFMT; continuarão, sem políticas afirmativas, sem as SOBREVAGAS.
Nós, seguidores dos ensinamentos de Zumbi continuamos lutando contra estas e outras formas de racismo, camufladas ou abertas. Assim o Movimento Negro de Rondonópolis (MNR) continuará a lutar pelas SOBREVAGAS para negros pobres e brancos pobres de nosso Estado. O MNR, em parceria com a Prefeitura Municipal de Rondonópolis (gestão Zé Carlos do Pátio) mantém em funcionamento o Cursinho Pré-Vestibular Gratuito Zumbi dos Palmares, para alunos carentes, brancos pobres e negros pobres, que desde a sua criação em molde voluntários, colocou na UFMT e UNEMAT, mais de 300 estudantes em 6 anos, bem como aprovou dezenas de outros em concursos públicos. E continuaremos lutando pelas SOBREVAGAS na UFMT.
O MNR, seguindo o exemplo de Zumbi dos Palmares, combate em nossa realidade atual pela realização da 2ª Abolição. No nível do Município de Rondonópolis, neste sentido, desenvolvemos ações junto ao Conselho de Saúde (Combate à Anemia Falciforme, Doenças Falciformes). Na semana passada (16/04/2011) o ilustre vereador Reginaldo fez aprovar na Câmara Municipal a participação do MNR no Conselho Municipal de Educação, onde defenderemos uma Educação Multiculturalista voltada para a defesa dos interesses dos brancos pobres e negros pobres, verdadeiros baluartes do desenvolvimento de Rondonópolis. Também os vereadores Adonias Fernandes e o presidente da casa, Ananias Martins, empenham-se a favor de “nossa gente”, assim como todos os demais vereadores da Câmara Municipal na atual gestão.
Assim vivemos e comemoramos o Espírito de Zumbi dos Palmares, agindo e pensando em prol de nossa gente, negros pobres e brancos. E tal e qual Zumbi, continuaremos o combate nas diversas formas de enfrentar o Racismo, até que predomine a Igualdade, a Paz, a Liberdade e a Justiça; uma verdadeira Democracia Racial, e não engodos como ideologias da mestiçagem e/ou da Diversidade.
Sabemos que “Quem vive ama, quem ama sofre, quem sofre luta e quem luta sempre vence” (Gandhi).
– Valeu Zumbi!!!
– Axé, Motumbá
(*) Movimento Negro de Rondonópolis, 20 de novembro de 2011
Fonte: A Tribuna MT