Vendo um telejornal dia desses, na casa de meus sogros, já que optei por não me informar mais pela TV, me peguei pensando em uma coisa que, suponho, seja muito recorrente a boa parte das mulheres, principalmente as que ganham pouco ou quase nada.
Por Graziely dos Reis Lemes enviado para o Portal Geledés
foto/Divulgação
O homem branco de gravata que se encontrava entre as câmeras e um fundo montado dizia sobre manifestações violentas de algumas pessoas ao se encontrarem com um político que, nesse momento, não se faz necessário citar o nome (algumas pessoas não merecem tal holofote), dizendo absurdos sobre as mulheres em geral com agressões ainda mais violenta para mulheres negras.
Confesso que um sorriso traiçoeiro brotou com lábios tremidos na minha boca escura.
O que me ocorreu foi que o tal jornalista só podia estar brincando, tirando uma boa onda com todas as pessoas que, em seu horário ligeiro de almoço, engolem suas comidas ao som de suas bem escolhidas palavras.
Essa semana, em Mato Grosso, a morte de várias mulheres foram registradas com um certo ar de banalidade, em algumas ocasiões.
Entre Tietas, Tábatas, Marias, Ângelas, Elaines, Carolinas e Conceições, as trabalhadoras, são as que mais sofrem. Suponho que muitas mulheres nesse momento ainda no trabalho estão se recobrando dos assédios do patrão e do filho do patrão também, muitas estão preocupadas com as crianças que, pela falta de apoio do Estado, deixam suas crianças em casa, mesmo sabendo que seu direito a educação está sendo omitido por não encontrarem outra alternativa, há ainda aquelas que não conseguem emprego porque nesse país as oportunidades são direcionadas para pessoas muito específicas, se elas forem filhas de algum poderoso, suas chances, provavelmente serão multiplicadas por algum número com mais de três dígitos.
O que me deixou intrigada é que se eu sei disso, se as mulheres que carregam esse país em seus braços escuros e suados sabem disso, como os “fazedores de direitos” podem não perceber? Então eu me dei conta de que é improvável não perceber, que existe sim uma aposta contra a vida de muitas como nós.
Precisamos entender que que o repórter estava errado, afinal, violentos são os projetos de lei que querem continuar nos matando e nos escravizando como fizeram com as nossas avós.
Levando em consideração a ameaça constante da escravidão, outra vez, na África, na Europa e, porquê não, no Brasil também, entendo que seja um tempo onde não podemos mais esperar, o futuro, sendo filho do presente que nos mata, por ciúme, por desaforo, por amor, pelos salários que nos deixam numa situação de pobreza extrema, não podem ser algo que nos faça acreditar que um tempo florido está por vir.
É tempo de apoiarmos umas as outras, de entender que só a auto proteção e o entendimento de que as nossas mães e avós estiveram em condições tão ou mais humilhantes que as nossas e que, mesmo em tempos tão difíceis, lutaram bravamente de todas as maneiram que puderam pelo direito de trabalhar, se amar ou de não amar.
Esse é o tempo de olharmos para as batalhas que nossas ancestrais, escravizadas por serem mulheres como nós, por serem negras como nós , é tempo de olhar para tudo que nos torna semelhantes e ir buscar os direitos que sempre deveriam ter sido nossos. Espero que essa mensagem chegue às suas mãos como as mensagens de muitas de vocês tem chegado até mim: cheia de força e de esperança.
Forte Abraço