Cartão vermelho ao racismo

A luta vem de longe. O ser humano sempre evidenciou algum tipo de discriminação com os seus semelhantes. Muitas vezes por culpa das desigualdades sociais, outras por dementes que simplesmente acreditavam que eram superior ao outro. Loucos de todos os tipos que só contribuíram para criar situações de horror como guerras, terrorismo ou genocídios.

Todos pensavam que com os exemplos do passado, esses atos discriminatórios desapareceriam. Um doloroso engano. O tema se propaga nos mais distintos setores sociais, como por exemplo, o esporte. No caso do futebol, o tema assusta, principalmente na Europa. Há tempos que a UEFA luta para erradicar de vez qualquer tipo de racismo dos campos europeus. Agora a situação chegou ao limite. 

A máxima entidade do futebol do Velho Continente, presidida pelo francés Michel Platini, com o apoio da FIFA, divulgou na última quarta-feira uma lista de símbolos do mal (veja quadro) que deverão ser banidos dos estádios, seus responsáveis punidos e os clubes, sancionados. Símbolos – muitos desconhecidos ao grande público – que só servem para propagar uma única coisa: o ódio ao diferente.

Aproveitando a rodada inicial da Champions League, a UEFA enviou à todos os seus árbitros um guia completo com imagens relacionadas com ideologias racistas, xenófobas e preconceituosas. A regra é clara: onde houver qualquer indício desses símbolos será proibida a prática do futebol. O colegiado deverá exigir a retirada imediata da imagem e solicitar explicações ao clube mandante, quem afinal é o responsável por manter suas dependências livres desses indivíduos.

O assunto foi amplamente divulgado essa semana pelos principais jornais esportivos europeus, entre eles, o ´Marca´, da Espanha, o L´Equipe, francês, e o italiano ´La Gazzetta dello Sport´. O apoio à esse ataque final da UEFA contra o racismo é total. Ao que parece, para o bem do esporte na Europa, a total eliminação desse problema está perto do fim.

Os clubes serão responsabilizados

Os maiores prejudicados pelas ações desses dementes sociais serão os próprios clubes. A UEFA, através do seu presidente Michel Platini, assegurou que de agora em diante as sanções econômicas serão mais altas e os estádio fechados por mais tempo. Um duro castigo às equipes, mas principalmente ao torcedor ´normal´.

Ao longo dos últimos anos, os clubes europeus adaptaram sistemas de segurança para poder localizar e identificar os torcedores que se comportam de maneira anti-esportiva. Entretanto, os casos se repetem. Por exemplo, nos jogos da Lazio italiana é normal ver faixas com símbolos xenófobos na torcida. A facção violenta do Real Madrid, os ´UltraS Sur´ fazem um jogo de letras que formam as iniciais ´SS´, símbolo do corpo de combate da partido nazista. 
O Atlético de Madrid foi o caso mais recente de punição por insultos racistas. Na Champions League do ano pasado, durante um jogo contra os franceses do Olimpique de Marselha, o clube madrilenho recebeu um duro castigo económico e a perda do mando de campo por três jogos, que logo foi reduzida. O jogo no estádio Vicente Calderón, em Madrid, acabou numa batalha sangrenta envolvendo torcedores de ambos os times e a policía.

Outro time que teve problemas pelos comportamentos da sua torcida foi o Zenit de San Petersburgo, que quase foi expulso da Copa da Uefa 2008 – justo no ano que venceu a competição – debido a gritos racistas contra os jogadores Kaboré e Ayew, também do Olimpique de Marselha.

Um problema mundial

Mesmo que alguns não entendam ou não desejam compreender, o futebol é na essência, um esporte. Um espetáculo de competição e entretenimento para o povo. Mas nem todos possuem esse conceito lúdico do esporte mais praticado do planeta. Para certos individuos, o futebol é apenas uma desculpa para fazer apologia fascista, discriminatórias e xenófobas.

Quando não utilizam as arquibancadas para cometer atos criminosos amparando-se no anonimato encontrado nas massas, como o que ocorre em países como Brasil e Argentina. Um problema mundial que assola não só o esporte como também a sociedade.

Por tudo isso a UEFA junto à FIFA decidiram divulgar o manual elaborado pela FARE, uma organização cujas siglas significam ´Futebol Contra o Racismo na Europa´. Essa instituição leva mais de uma década lutando para acabar com esse triste problema no futebol europeu.

UMA VITÓRIA DE TODOS

O fim do racismo no futebol será uma vitória de todos, mas principalmente dos jogadores que são os que de verdade sofrem com os insultos dos torcedores preconceituosos. Eles são os que mais lutam para conseguir que nos estádios se escutem os aplausos ou as críticas pelos méritos esportivos e não pela cor da pele.

Um dos pioneiros na luta anti-xenofobia é o técnico holandés Guss Hiddink. Quando era técnico do Valência, em 1992, num jogo contra o Albacete, no estádio de Mestalha, em Valência, Hiddink pediu que retirassem um cartaz com simbología nazista, situada na ´Yomus´, a torcida radical valenciana. Se o cartaz não fosse retirado, o time não entraría em campo. Hiddink, cuja familia sofreu o horror do nazismo, se convertía dessa forma num dos primeiros heróis dessa ´cruzada´ no futebol.

Outro guerreiro anti-racismo é o atacante Samuel Eto´o, atualmente na Inter de Milão. Em 2006, num jogo entre o Barcelona e Zaragoza, no estádio da Romareda, em Zaragoza, o camaronês decidiu sair de campo após cansar de ver como cada vez que ele tocava na bola a torcida imitava o som de um chipanzé. O próprio árbitro da partida, Esquinas Torres, além dos jogadores do Zaragoza pediram para ele ficar. As críticas contra a torcida Zaragoza foram duríssimas até mesmo de parte dos seus dirigentes.

Apesar de tanto mal-exemplo, às vezes o inimigo vem de dentro do próprio esporte, como era o caso do ex−jogador da Lazio, Paulo Di Canio, um confesso simpatizante do movimiento fascista.

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