Cartilha ajuda mulheres a identificar sinais de perigo de violência doméstica

Enviado por / FonteG1, por Fernanda Graell

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania, da Assembleia Legislativa do RJ (Alerj), criou um guia que mostra a escalada da violência contra a mulher e como ela deve ficar alerta. A deputada Renata Santos, da comissão, explica o que é o Violentômetro.

“Ele não é importante somente para a vítima. Ele é também para parentes e amigos, porque pode medir a gradação da violência, além de incentivar a denúncia. Você mulher, que é vítima de violência, denuncie. Não silencie. O seu silêncio não vai te proteger. Ligue 180”, disse a deputada.

O que diz a cartilha:

Seu relacionamento é sadio quando o seu companheiro:

  • Respeita suas decisões e seus gostos
  • Aceita seus amigos e sua família
  • Confia em você
  • Fica feliz quando você se realiza
  • Se certifica de que vocês estão de acordo nas coisas que vão fazer juntos

É considerado violento quando:

  • Te ignora nos dias em que está com raiva
  • Faz chantagem se você recusa a fazer alguma coisa
  • Diminui suas opiniões e seus planos
  • Zomba de você em público
  • Te isola da família e dos amigos
  • É permanentemente ciumento
  • Controla suas saídas, suas roupas, sua maquiagem
  • Vasculha suas mensagens, e-mails e aplicativos
  • Insiste para que você envie fotos íntimas
  • Te manipula para ter relação sexual sem preservativo

Você está em perigo quando o seu companheiro:

  • Te trata como maluca quando você o reprova
  • Perde a cabeça quando algo lhe desagrada
  • Te obriga a ver filmes pornográficos
  • Ameaça se matar caso você diga que quer tentar terminar o relacionamento
  • Te toca nas partes íntimas sem o seu consentimento
  • Ameaça mostrar suas fotos íntimas
  • Te puxa, te empurra, te sacode, te bate, aumenta o tom de voz
  • Te obriga a ter relações sexuais

Além do número 180, da Central de Atendimento à Mulher, no estado existem 14 Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam) e os Centros de Atendimento à Mulher.

Violentômetro ajuda mulheres a identificar sinais de perigo — Foto: Infografia: Amanda Paes/G1

SOS Mulher mostra as diferentes formas de agressão

O segundo programa da série SOS Mulher, do Bom Dia Rio, conta a história da professora Availdes Jesus, e fala sobre as formas de agressão, como elas surgem sutilmente, sem que se perceba, dentro de casa.

Primeiro, a mulher se sente incomodada, mas não chega a ser um violência física. É uma palavra mais dura, um jeito grosseiro de falar e logo passa para ameaças, xingamentos, afastamento da mulher da família até chegar a agressão física.

“O agressor não fala que é agressor. No começo, ele mandava mensagens de amor, flores, tudo pela internet. Ele era super carinhoso e cativante também. No início, ele era a pessoa que eu ia ter o resto da minha vida e depois iria confiar”, contou Availdes.

A professora conta que o primeiro sinal de violência doméstica ocorreu quando o ex-companheiro tinha bebido. Ele brigou e deu um tapa em Availdes. Depois pediu perdão.

Mas os sinais de alerta chegavam sem parar, como chantagens e humilhação.

“Ele dizia que não adiantava eu falar nada com meus filhos ou procurar alguém porque ele achava meus filhos. Ele me achava até se eu saísse. Eu era mais velha, eu tinha 45 anos e ele, 33 anos. Essas coisas não são fáceis de falar. Ele falava algumas coisas assim: ‘eu posso ter a mulher que eu quiser, se você está pensando se vai ficar comigo, se vai me ajudar, eu posso ter a mulher que eu quiser'”, lembrou a professora.

Availdes conta que se afastou totalmente dos filhos. Ela era ameaçada e agredida pelo ex-companheiro sempre que ele bebia, o que acontecia com frequência. O neto chegou a presenciar uma das brigas violentas. O ex-companheiro tentou bater na professora na cozinha. Da cozinha foram para o quarto.

“Ele me jogou no chão, bateu com minha cabeça no chão. Eu era obrigada a trabalhar e dar o dinheiro a ele, senão, apanhava. E se desse também apanhava do mesmo jeito. Ele falava: você vai ver eu vou te matar, não adianta, vou te matar”, contou a vítima.

Availdes tinha uma marca no ombro de uma das brigas do casal. Até que um dia, ele se levantou, bateu nela e a empurrou em cima do guarda-roupa.

“Eu caí, me levantei e ele me pegou. Quando me abraçou, mordeu a minha boca. Eu falei: você vai arrancar o pedaço. Ele morde e tira o pedaço. Eu me senti um bicho, um monstro. Ele mordeu minha boca, comecei a sangrar, comecei a gritar, a pedir ajuda “, contou a mulher que teve de passar por uma cirurgia e hoje carrega uma cicatriz no lábio inferior.

Depois dessa briga, Availdes não aceitou mais o ex-companheiro de volta. Ela tinha medo do que poderia acontecer no futuro.

“A gente quando se envolve com pessoas assim, fica muito fragilizada. A gente fica com medo de falar com a família, de se voltar para um amigo, de falar o que está acontecendo, porque as pessoas vão falar para você: ‘eu te avisei’. Um ano e nove meses apanhando, sendo machucada, fui mordida, agredida de todas as formas como pessoa, como mulher, como mãe, como avó”, disse Availdes.

Para mulheres que enfrentam situação parecida, ela diz que não é preciso ter medo de pedir socorro. Ela conta que a base dela foram os filhos.

“Queria que todas as mulheres parassem para analisar o que elas realmente têm. Eu tenho uma família que me ama. Acredite que você é capaz de sair dessa, de viver melhor. Hoje eu não aceitaria esse tipo de agressão. Ninguém, hoje, me bateria de novo. Existe um caminho, sim, existe um futuro, existe sim um amanhã”, disse Availdes.

O ex-companheiro de Availdes foi assassinado a facadas. Ela ficou separada dele depois do episódio da mordida e, na ocasião, obteve uma medida protetiva para mantê-lo afastado.

A psicóloga Cristiane Pereira, do Movimento Mulheres de São Gonçalo, na Região Metropolitana, que ajuda mulheres em situação de violência doméstica, diz que a mulher que geralmente sofre uma violência se sente fragilizada e tem dificuldades de falar da situação.

“Ela se sente com medo e muitas vezes até culpada por estar passando por essa situação. Porque muitas vezes o próprio parceiro vai colocando ela nessa situação, de que ela é culpada por um insucesso na relação, por tudo o que está acontecendo na vida em família”.

“Por isso, essa rede de apoio, de família e amigos, é fundamental. Quando o outro se disponibiliza a ouvir essa mulher, a se colocar no lugar dela, desenvolvendo uma empatia e não culpabilizando ela por não conseguir sair dessa situação, isso dá forças para que essa mulher possa se movimentar. Muitas vezes ela se sente muito envergonhada. Até chegar a uma delegacia, essa mulher tem de passar por muitos desafios, superar muitos desafios”, disse a psicóloga.

O Movimento de Mulheres de São Gonçalo atua para a construção de políticas públicas voltadas para mulheres. E tem uma equipe de profissionais voltada para o atendimento à mulher, dando suporte psicológico, jurídico e de assistência social.

O atendimento pode ser presencial, ou através de um chat dentro do site do Movimento de Mulheres.

 

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