Caso de racismo em escola estadual de São Bernardo chega ao Ministério da Educação

Um caso de racismo apontado pela mãe de uma aluna de 12 anos da Escola Estadual João Ramalho, no Centro de São Bernardo do Campo ganhou repercussão nacional esta semana, a ponto de ser investigado pelo Ministério da Educação. Por meio de sua conta do Facebook, ela contou que sua filha estava sendo vítima de racismo dentro da instituição de ensino, em postagem que já chegou a quase 110 mil curtidas e superou os 75 mil compartilhamentos.

Do TV BERNO

Segundo o relato, a menina, chamada Lorena, tem sido alvo de ataques por parte de colegas por conta do cabelo e do aplique (canicalom, uma trança) que usava. Desconfiada, a mãe, Camila dos Santos Reis, conversou com a filha que, dias depois, lhe encaminhou diversas mensagens de áudio pelo Whatsapp com as ofensas que recebia, de cunho racista e sexista – inclusive de vizinhos. “Coloquei meu fone no ouvido e, logo a primeira frase, gritada em alto e bom som, foi ‘sua preta, testa de bater bife do ca***'”, escreveu a genitora.

Na escola, a diretoria entrou em contato afirmando que teria que mudar Lorena de turma pois “os alunos não haviam se adaptado a ela”. A mãe então se reuniu com a diretora e a supervisora de ensino de São Bernardo, no último dia 14 de abril e, junto com a filha, expôs o caso e citou os nomes de colegas que lhe atacaram.

Todavia, segundo Camila, horas depois, Lorena teria dito que, após ter sido ofendida e xingada por colegas “por ter se comportado como uma dedo-duro”, a diretora a teria feito pedir desculpas a todos. Como resultado, a garota teve estresse pós-traumático e se negou a voltar para a escola.

O caso repercutiu a ponto de, na última quarta-feira (13), o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, ter citado em discurso o suposto caso: “Episódios que evidenciam a presença de preconceito racial entre crianças e adolescentes nos alertam para o desafio de construir uma escola sem o racismo e todas as formas de preconceito”.

Secretaria minimiza e mãe se revolta

Em fala ao portal IG, a Dirigente regional da Diretoria de Ensino de São Bernardo do Campo, Suzana Aparecida Dechechi de Oliveira, afirmou que as acusações não são verdadeiras e que o caso é diferente do dito pela mãe: Lorena teria pedido, por conta própria, para mudar de sala por queria ficar próxima às amigas.

Ela ainda alegou que a diretora da escola, Aparecida Circe Ferreira de Silva, teria sido informada por crianças que Lorena teria sido ofendida após ter empurrado no chão um menino que é deficiente. “Aí a classe tomou as dores dele e começou a brigar com a menina. Eles não perdoam esse tipo de coisa, e ela acabou se tornando o alvo”, disse Oliveira, que classificou o caso como “discussão entre crianças” e também acusou a mãe de expor a menina.

Ainda ao portal IG, A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, via assessoria, minimizou o fato, afirmando que o caso foi resolvido naquela reunião. Sobre as desculpas que Lorena teve que pedir, o comunicado ressalta que ela “pediu desculpas aos outros porque todo mundo xingou todo mundo, não porque a diretora a obrigou. Na verdade, foi basicamente um diz-que-me-diz entre alunos da mesma idade, um problema entre os estudantes”.

Inconformada com a postura da Secretaria Estadual de Educação, Camila postou um desagravo no último dia 11, em seu Facebook:

“Secretaria da Educação, como assim? Minha filha esta desde o começo do ano sofrendo racismo calada, procurou a diretoria da escola diversas vezes q nada fez para mudar a situação, pelo contrário, acharam mais conveniente trocar ela de turma ao invés de aplicar medidas corretivas e conscientizar os agressores, os mesmos sequer levaram advertência ou suspensão. Quem acionou o Conselho Tutelar foi eu e não a escola. Isso é uma tentativa descabida de inverter a situação, de colocar a Lorena como agressora. Quem conhece minha filha sabe q ela seria incapaz de fazer qualquer maldade, principalmente para outra criança, ainda mais portadora de necessidades especiais, q absurdo. É o certo saindo como errado novamente. Até qdo vai isso? Lamentável…”

O Conselho Tutelar de São Bernardo do Campo entrou no caso e deve se posicionar nos próximos dias.

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