Todos os crimes ocorreram na mesma região onde um policial foi assassinado no domingo. Moradores queimam ônibus em protesto
Por: MARINA ROSSI
Em um período de quatro horas – entre as 23h deste domingo e as 2h da manhã deste domingo – 12 pessoas foram assassinadas em Campinas, interior do Estado de São Paulo. Todos os crimes ocorreram na região do Jardim Ouro Verde, zona Oeste da cidade e tiveram como alvo pessoas com o mesmo perfil: homens, pobres da periferia, que foram executados com tiros frontais, disparados contra a cabeça e o tórax e que não tiveram chance de defesa. Um dos assassinados era um menor de idade, de 17 anos, e outro ainda não teve seu corpo identificado.
Os crimes ocorreram algumas horas depois de o policial militar Arides Luiz do Santos, de 44 anos, ter sido assassinado com um tiro na cabeça, quando estava de folga. O fato ocorreu durante uma tentativa de assalto, no domingo dia 12 à tarde, na mesma região da cidade onde os 12 óbitos eram registrados. De acordo com a cientista política e pesquisadora do Núcleo da Violência da Universidade de São Paulo, Camila Nunes Dias, “tudo leva a crer que esses fatos estão relacionados entre si”. “Nós já vimos isso em São Paulo: um policial morto e, dias depois ou horas depois, uma série de assassinatos”, diz Dias. “Pela dinâmica da chacina, tudo indica que ela foi cometida por grupos de extermínio”.
Segundo o delegado Licurgo Nunes Costa, do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter-2), seis das vítimas tinham antecedentes criminais. Ele levantou as hipóteses de vingança, execução e grupos rivais para investigar o caso. Questionado sobre a participação de policiais nos crimes, Costa afirmou que não descarta nenhuma hipótese. “Neste momento estamos em uma fase de reuniões e levantamentos, ainda é prematuro apontar qualquer indício de participação policial nos crimes. Estamos trabalhando desde a primeira ocorrência e contamos com o apoio de delegados do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo, para elucidar o caso”, disse Costa, em coletiva de imprensa na manhã de hoje.
Cinco das vítimas morreram no bairro Vida Nova, quatro no bairro Recanto do Sol e o restante em outros pontos da cidade, todos na região do Jardim Ouro Verde. Campinas, uma cidade com mais de um milhão de habitantes, é dividida em nove macrozonas. Campo Grande / Ouro Verde é a de maior expansão da periferia da cidade. Com 400 mil habitantes, é a área mais pobre de Campinas.
“Há muito tempo não ocorria algo assim na comunidade. A última chacina aconteceu há mais de sete anos, mas por envolvimento com o uso de drogas”, disse um morador do bairro Vida Nova, que preferiu não se identificar. Ainda de acordo com ele, o clima na região está muito pesado e o comércio está fechado nesta tarde de segunda-feira. Os moradores do local estão em casa, orientados por um toque de recolher da própria comunidade. Além disso, de acordo com esse morador, testemunhas teriam dito que os executores dos crimes estavam fardados, sem identificação, apenas com capuzes nas cabeças, e chegaram a orientar menores de idade que estavam no local do crime a entrarem em suas casas antes de iniciarem os disparos.
Ainda na manhã desta segunda-feira, um grupo de pessoas ateou fogo em cinco ônibus no terminal Vida Nova, em protesto contra a violência. “Acreditamos que se a polícia continuar com essa truculência toda, como ela vem agindo na comunidade há algum tempo, a tendência é que essa violência aumente”, disse o morador, justificando a reação dos moradores.
Os fatos ocorrem logo depois da criação do novo Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) de Campinas, anunciado em cerimônia pelo governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). “Isso evidencia que este governo aposta no enfrentamento, na atuação da PM. Quando se tem um governo com essa característica, o Estado não pode simplesmente dizer que vai investigar, o que é esperado que se faça. Deve mostrar resultado”, diz Dias.
“A guerra contra a PM está declarada”: o que está por trás das cenas de horror em Campinas
Fonte: El Pais