China consolida posição nos media africanos

A China está também presente na comunicação social em África. Mas agora tem um projeto novo: um jornal em língua inglesa para a África que começou a ser vendido no Quénia há poucas semanas.

A potência asiática já está bem posicionada, com o canal de televisão CCTV Africa, a agência de notícias Xinhua News e a Rádio Internacional da China.

Os chineses estão a provocar uma reviravolta no mercado dos média em África: investindo na tecnologia de ponta, distribuindo bolsas de formação na China a jornalistas africanos e lançando as suas próprias emissoras.

No início de 2012, a China começou a operar com o canal de televisão “CCTV Africa” em inglês. Para além de reportagens, debates e documentários, o canal produz ainda conteúdos para a internet e telemóveis.

Brevemente deverão ser contratados cem novos correspondentes africanos. Além disso, a agência de notícias Xinhua juntou-se a um operador queniano de serviços telemóveis para criar a primeira agência de notícias para telemóveis na África sub-saariana.

Motivos económicos

No primeiro semestre de 2012, a China investiu em África um total equivalente a 45 mil milhões de dólares.

Mary Harper é autora e especialista em África para a emissora britânica BBC e diz que “como a China se empenha em África por motivos exclusivamente económicos, o país tem sido muito criticado pelo Ocidente.”

Na opinião da especialista, com isso a China quer apresentar aos africanos a sua versão da história e não permitir que ela seja interpretada apenas pelos meios de informação ocidentais.

Em dezembro de 2012 começou a ser vendido o semanário “China Daily-Africa Weekly” na capital queniana, Nairobi. Esta cidade é uma plataforma mediática na África do Leste, e é aqui que as emissoras chinesas têm as suas delegações africanas.

Entre elas a Rádio Internacional da China, RIC, que transmite em mais de 50 línguas. Há sete anos, a RIC abriu uma redacção em Nairobi, e conta com um jornalista queniano que trabalha para a emissora.

Controle rigoroso dos conteúdos

Em anonimato, porque as entrevistas com meios de comunicação ocidentas são mal vistas pelo empregador, esse jornalista queniano conta que “primeiro escrevemos em Inglês e depois traduzimos para o kisuaeli”.

O jornalista acrescenta ainda que “não transmitimos em direto de Nairobi. Temos que enviar tudo para a central em Pequim. É de lá que são transmitidos os nossos trabalhos.”

Os jornalistas da RIC viajam regularmente para Pequim para receber formações, segundo o jornalista que acrescenta “o objetivo é conhecer os métodos de trabalho chineses”. 

Todas as peças têm que ser autorizadas por Pequim, nada é emitido sem censura prévia. O jornalista, que antes trabalhava para uma emissora queniana, admite que para ele nem sempre é fácil.

Ele conta ainda que não podem falar de coisas negativas, facto que desagrada o jornalista: “Mas como jornalista também temos que falar de coisas que não correm bem e mostrar a realidade. Os meios de informação quenianos falam sobre tudo, mas aqui na Rádio Internacional da China somos muito seletivos”.

Agora é a vez da China…
A rádio dá destaque aos assuntos positivos de África, para ganhar a simpatia dos ouvintes africanos, destaca o jornalista. Mas, a analista Mary Harper não tem uma visão tão crítica. Na sua opinião, durante muito tempo o trabalho dos meios de informação ocidentais sobre África foi predominantemente negativo. Por isso Harper até acha bem que agora sopra um novo vento no mercado da informação africano graças à concorrência chinesa.

No entanto, a crescente presença chinesa também tem um lado negativo. Na Etiópia por exemplo, os chineses ajudaram a financiar um sistema de controlo. Desde então os meios de comunicação da oposição são regularmente encerrados e o número de detenções de jornalistas críticos do regime aumentou. Um procedimento corriqueiro na própria China. 

Autora: Nadiana Schwarzbeck / Cristina Krippahl
Edição: Nádia Issufo / António Rocha

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