A cidade paulista que está protegendo um padre e dando uma lição contra o racismo

por :

Moradores da pequena Adamantina, no interior de São Paulo, promoveram a antítese das manifestações reacionárias que acontecem pelo Brasil após as eleições presidenciais. No último dia 07, cerca de 2 mil pessoas, segundo informações do Estadão, protestaram durante a missa na Igreja Matriz da cidade contra a transferência do padre Wilson Luís Ramos.

O clérigo afirma ter sofrido rejeição de alguns fiéis por ser negro e atuar em favor dos mais pobres. Para resolver a situação da forma mais cômoda possível, o bispo responsável pela paróquia, Dom Luiz Antônio Cipolini, mandou o padre rezar em outra freguesia.

Com uma população de 35 mil pessoas, Adamantina recebeu um tipo de mobilização popular raramente vista nas grandes cidades: em defesa dos pobres, dependentes químicos e contra o racismo.

Isso porque o padre foi discriminado por causa de atitudes progressistas como receber usuários de drogas na Igreja, usar roupas simples e visitar comunidades periféricas. Há também o fato de ser negro. “Outro dia surpreendi duas senhoras dizendo que deveriam trocar o galo que há no topo da igreja por um urubu. Foi muita humilhação”, disse o padre ao Estadão.

Assim, o protesto pela permanência do padre Wilson aborda, mesmo indiretamente, uma agenda fundamental para construção de uma sociedade mais justa.

São assuntos ignorados por aqueles “cidadãos de bem” que se vestem de verde amarelo e se reúnem na avenida Paulista para bramir chavões contra a corrupção política e pedir a volta da ditadura militar. Evocam o respeito à moralidade política quando na verdade só estão preocupados em garantir férias na Flórida, o espumante nosso de cada dia e o SUV prateado.

A manifestação dos católicos adamantinenses, por outro lado, ilustra o tipo de protesto que deveria ser mais frequente nas ruas do país: a mobilização pelos menos favorecidos e contra as reações arbitrárias da elite diante da perda de privilégios. Este sim é o bom combate.

Que os protestos de Adamantina inspirem outros pelo país afora.

cidade_padre_racismo1

Sobre o Autor

Marcos Sacramento, capixaba de Vitória, é jornalista. Goleiro mediano no tempo da faculdade, só piorou desde então. Orgulha-se de não saber bater pandeiro nem palmas para programas de TV ruins.

 

Fonte: DCM

+ sobre o tema

Academia está tentando escalar celebs negras para apresentar prêmios no Oscar, incluindo Melhor Filme

Atriz Whoopi Goldberg disse que estará presente em solidariedade...

A Branca Benfeitora

Muito falamos das Imagens de Controle das mulheres negras,...

O livro é um assombro

‘A cor púrpura’, o musical’ põe o país diante...

Nem falso, nem inócuo. Exemplar

Fonte: Estado de São Paulo - por: Roseli Fischmann*- O discurso...

para lembrar

Rafaela Silva é a 1ª brasileira na semifinal do judô da Rio-2016

Traumas servem para que você supere seus medos. Não...

A defesa da Polícia Militar como retrato de uma sociedade doente

  José Rogério Beier, Hoje estive discutindo com...

Disney retira fantasia de loja após acusações racismo

Roupa sobre personagem do filme Moana cobre o corpo...

Literatura, Conhecimento e Política: diálogos entre Brasil e África

por Remo Mutzenberg1 e Eliane Veras Soares Revista UFPE Resumo Neste artigo os...
spot_imgspot_img

Réus são condenados pela morte do congolês Moïse Kabagambe

O I Tribunal do Júri da Capital condenou, na noite desta sexta-feira, os dois réus pela morte do congolês Moïse Kabagambe, em 24 de...

A segunda morte de George Floyd: governo dos EUA pode perdoar seu assassino

No seu discurso de posse na Casa Branca, o presidente Donald Trump citou o reverendo Martin Luther King Junior para definir a sua ideia de Estado democrático de...

Mortes por policiais crescem 61% em SP em 2024, mas PM faz menos apurações

Mesmo diante do aumento das mortes durante ocorrências policiais, a Polícia Militar de São Paulo registrou queda em todos os índices de investigação interna (procedimentos...
-+=