“Carolina Maria de Jesus é um clássico dos anos 1960 e, finalmente, começa a se consolidar nesse lugar”, diz a escritora Cidinha da Silva, 55, autora de “Um Exu em Nova York” e editora na Kuanza Produções.
Ela conta que tinha 24 anos quando leu “Quarto de Despejo” pela primeira vez. À época, atuava no Geledés – Instituto da Mulher Negra, instituição que presidiu entre 2000 e 2002. “Então sabia bem como o racismo operava, estava preparada para decodificá-lo.”
Não à toa, a escritora escolheu, para a sua leitura neste vídeo, um trecho em que Carolina narra um dia no cotidiano da favela do Canindé, onde morava. O fragmento expõe não só as violências que atingiam a protagonista como também o modo como ela observava as personagens à sua volta.
“O sentimento mais nítido que tive foi o de perceber como a estrutura racista manipulou Carolina para expor suas condições de vida miseráveis à sanha dos abutres”, reflete Cidinha. Veja o vídeo abaixo.
Cidinha foi uma das intelectuais convidadas a compor o conselho curador do projeto 200 anos, 200 livros, uma parceria da Folha com a Associação Portugal Brasil 200 anos e com o Projeto República (núcleo de pesquisa da Universidade Federal de Minas – UFMG). A iniciativa visa indicar 200 obras importantes que expliquem o país.
As três indicações de Cidinha entraram para a lista final: além de “Quarto de Despejo”, “Escritos de uma Vida”, de Sueli Carneiro, e “Literatura e Afrodescendência no Brasil: Antologia Crítica”, de Eduardo de Assis Duarte e Maria Nazareth Soares Fonseca.
“Trata-se de uma grande intérprete do Brasil, que tinha o sonho de escrever, que tinha um projeto literário e lutou por ele. Para mim, este é seu maior legado”, afirma a escritora.
Este é o primeiro vídeo de uma série realizada pela TV Folha no âmbito do projeto 200 anos, 200 livros. Os demais trarão leituras de “Grande Sertão: Veredas”, “A Queda do Céu” e “Raízes do Brasil”.