Ciências naturais e racismo: o caso de Christian Cooper

FONTEPor Mariana Inglez, do Serrapilheira
Christian Cooper no Central Park, em Nova York. (Foto: Brittainy Newman/The New York Times)

Em junho deste ano, observamos em todo o mundo o levante do movimento Black Lives Matter ou Vidas Negras Importam, tanto em manifestações nas ruas quanto com o uso de hashtags nas diferentes redes sociais, em resposta à violência policial explícita no caso de George Floyd, assassinado em Minneapolis, EUA. As manifestações trouxeram à tona o racismo persistente e institucional contra a população negra em diferentes sociedades e a permanência das desigualdades raciais.

Ainda dentro do tema, na semana do meio ambiente, entre os dias 31 de maio e 5 de junho, iniciou-se o movimento #BlackInNature e a #BlackBirdersWeek, também em resposta ao episódio de racismo sofrido por Chris Cooper, conhecido observador de aves no Central Park, NY. Cooper é membro do conselho da Audubon Society em Nova York, onde promove a conservação dos espaços ao ar livre e inclusão de todas as pessoas nesses espaços. Após caminhada para observação de aves no parque, pediu que uma mulher branca colocasse a coleira em seu cachorro, conforme orientação do local, já que se tratava de área reservada para proteção e observação de pássaros. Irritada, a mulher em questão o ameaçou afirmando que chamaria a polícia informando que estava sendo atacada por um homem negro. O caso evidenciou a dinâmica de poder na qual pessoas brancas entendem que podem usar o viés de instituições estatais contra pessoas negras, sempre lidas como perigo em potencial.

No Brasil, em que 56,10% da população se autodeclara negra, a porcentagem desse grupo ocupando cargos de docência no ensino superior, por exemplo, ainda é de 16%. Refletindo sobre a importância da representatividade para inclusão, questionamos: quantos documentários ou programas sobre natureza, animais, ou de atividades outdoor de esporte e lazer, são protagonizados por pessoas não brancas? Como incentivar que crianças e jovens não brancos se interessem por tais práticas ou que acreditem ser possível seguir tais caminhos como profissionais enquanto não se enxergarem ocupando tais espaços?

(Foto: Divulgação/ Afro Observação de aves)

O movimento da “Primeira Semana de Afro-observação de aves”, com apoio da Avistar e da Bemteouvi, objetiva trazer tais discussões com foco inicial para a observação de aves. A Avistar, enquanto instituição parceira do evento, constata que das mais de 40 “lives” transmitidas em 2020, apenas 4 contaram com palestrantes negros e que de todos os convidados, menos de quatro eram pessoas negras. Romper com esse padrão, que não deve ser normatizado em uma sociedade majoritariamente negra, é um dos objetivos do evento.

Acreditamos na importância de divulgar pessoas negras que atuam como ornitólogas ou que praticam a observação de aves, para celebrar e ampliar a diversidade, atraindo um público mais amplo para atividades como essa, que podem e devem ser mais democráticas. A observação de aves tem se mostrado uma prática que desperta o interesse da população não acadêmica e a sensibilização para a proteção ambiental, podendo ser praticada mesmo em grandes cidades. A prática por amadores estimula a catalogação de espécies nas diferentes regiões e estações do ano, e tem contribuído para melhor a compreensão sobre comportamentos de avifauna, a distribuição das espécies e identificação das mais abundantes ou em risco de extinção. Um grande potencial de contribuição para a produção de conhecimento científico por meio da ciência cidadã.

Gosta de aves? Se sente aberto a conhecer novas ideias e reflexões por um mundo mais inclusivo em qualquer área? Fica o convite para o evento que acontece entre os dias 30 de agosto e 5 de setembro.

Link para acesso às lives: https://linktr.ee/afrobirders

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