CNJ afasta juiz que comparou Lei Maria da Penha a ‘regras diabólicas’

Edílson Rodrigues ficará afastado por pelo menos 2 anos, recebendo salário.
Em 2009, o juiz foi acusado de preconceito contra a mulher.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou nesta terça-feira (9) o afastamento por pelo menos dois anos do juiz Edilson Rumbelsperger Rodrigues, da comarca de Sete Lagoas (MG). Ele foi acusado de usar linguagem discriminatória e preconceituosa em sentenças nas quais considerou inconstitucional a Lei Maria da Penha e de rejeitar pedidos de medidas contra homens que agrediram e ameaçaram suas companheiras.

Na época, Rodrigues atacou a lei em algumas sentenças, classificando-a como um “conjunto de regras diabólicas”. Ainda segundo o juiz, a “desgraça humana” teria começado por causa da mulher.

“A vingar esse conjunto de regras diabólicas, a família estará em perigo (..) Ora, a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher. Todos nós sabemos, mas também em virtude da ingenuidade, da tolice e da fragilidade emocional do homem”, segundo trechos de decisões do juiz.

Rodrigues responde a processo administrativo no CNJ desde setembro do ano passado. Na época, ele negou que tenha havido “excesso de linguagem” e se defendeu da acusação de preconceito.

{xtypo_quote}Eu não ofendi a parte e nem a quem quer que seja. Eu me insurgi contra uma lei em tese, e mesmo assim, parte dela. Combato um feminismo exagerado, que negligencia a função paterna, que quer igualdade sim, mas fazendo questão de serem mantidas intactas todas as benesses da feminilidade”, afirmou o juiz.{/xtypo_quote}

Por 9 votos a 6, os membros do CNJ decidiram colocar o juiz em disponibilidade, sanção pela qual o magistrado é afastado de suas funções por pelo menos 2 anos, recebendo salário proporcional ao tempo de serviço. Só depois desse período ele pode pedir autorização para voltar a atuar.

Julgamento
O relator do caso no CNJ, Marcelo Neves, entendeu que a gravidade das falhas não justificaria a remoção do juiz para outra vara, nem a determinação da aposentadoria compulsória, por não se tratar de crime ou contravenção.

“A visão que o magistrado em causa tem da mulher entra em mortal rota de colisão com a Constituição. O juiz decidiu de costas para a Constituição. A mulher é obra prima da criação. Acho que Deus só chegou à compreensão que era Deus quando chegou ao molde da primeira mulher”, afirmou o presidente em exercício do CNJ, Carlos Ayres Britto.

Fonte: G1

+ sobre o tema

Por que mulheres negras são as que mais morrem na gravidez e no parto?

A tenista Serena Williams escancarou os dados relacionando racismo...

John Kerry: “É hora de apagar o estupro do léxico da guerra”

O chefe da diplomacia dos EUA encerra a cúpula...

Encontrado o quarto da escrava que deu 6 filhos ao presidente Thomas Jefferson

Uma equipa de arqueólogos conseguiu descobrir os aposentos da...

para lembrar

A extinção do preto, marrom, amarelo e bege: a extinção do negro

Não é utopia, é como caminha a humanidade. E...

A urgência do pensamento feminista negro para a democracia

O feminismo é um movimento político e de transformação...
spot_imgspot_img

Salvador elege Eliete Paraguassu, primeira vereadora quilombola da cidade: ‘a gente rompeu a barreira do racismo’

Eliete Paraguassu (Psol) se tornou a primeira vereadora quilombola eleita em Salvador. A vitória foi desenhada neste domingo (6), no primeiro turno das eleições...

Anielle Franco é eleita pela revista Time uma das cem pessoas mais influentes da nova geração

A revista americana Time incluiu a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, em sua lista das cem personalidades da nova geração que têm potencial para transformar o...

Morre cantora Dona Jandira aos 85 anos em Belo Horizonte

A cantora Dona Jandira morreu ontem aos 85 anos em Belo Horizonte. O anúncio foi feito em seu perfil no Instagram. A causa da...
-+=