Folhas de janeiro voando do calendário, aquele clima de volta às aulas já surge na casa de muitas famílias pelo Brasil. No entanto, naquelas onde moram os alunos do colégio O Bom Pastor, em São Luís (MA), chegou esta semana um comunicado um tanto quanto polêmico, com a já tradicional lista de material didático necessário para o ano letivo da criançada.
Por Pedro Willmersdorf, do Extra
No informe, além dos materiais cotidianos, há uma seção com a solicitação de apoio pedagógico, que traz jogo das memória, bambolê e dominó. De repente, surge um trecho que solicita, separadamente por sexo, um kit de ferramentas (para meninos) e um kit de cozinha ou cabeleireiro (para meninas).

Nas redes sociais, a reação de muitas pessoas foi de repúdio ao comunicado. Tia de um aluno de 3 anos do colégio, Caroline Poupette desabafou: “Absurdo ! Meu sobrinho de 3 anos estuda lá e já está cheio dessas ideias “boneca é de menino, boneco é de menino. Mulher não joga bola.”. E eu tentando mudar esse forma dele de pensar, dizendo que não é assim e explicando, mas parece que eles incrustam essas ideias na criança!”.
Em sua página no Facebook, o coletivo feminista Frida fez uma postagem com duras críticas à postura da instituição de ensino:
NOTA DE REPÚDIO AO COLÉGIO O BOM PASTOR – São Luís (MA)Em tempos de ‘primavera das mulheres’, ainda existem instituiçõ…
Publicado por Coletivo Fridas em Segunda, 11 de janeiro de 2016
Pela rede, pipocaram postagens repreendendo o colégio. “Estudei na escola, mas concordo com a crítica. Por uma educação e sociedade menos sexista!”, escreveu Beatriz Costa; “Estudo lá e sou totalmente contra o sexismo. Que absurdo”, reclamou Ruth Gomes; “2016 e isso ainda acontece”, desabafou Camila Gomes. E, além da crítica ao caráter misógino do informativo, internautas ainda alertaram para uma infração cometida pela escola, segundo regulamentação do Procon que inibe listas de material didático para uso coletivo.
Procurada pelo EXTRA, a direção do Colégio O Bom Pastor enviou uma nota oficial sobre o ocorrido. “O modo como a lista de materiais fora organizada, em momento algum pressupõe juízo de valor institucional no que tange a tratamento particularizado de gênero, tampouco reflete preconceito”, diz certo trecho da nota. Confira abaixo o texto na íntegra:
“NOTA DE ESCLARECIMENTO
Vimos por meio de este esclarecer questionamento que nos fora feito acerca de eventual prática discriminatória que porventura estaria presente no modo como a lista de materiais didáticos para o ano letivo de 2016 fora organizada, particularmente no tocante aos brinquedos nela solicitados, pelos quais passamos a esclarecer:
1. De acordo com a proposta sócio-interacionista da escola, os materiais de apoio pedagógico (lúdico e de faz de conta) são essenciais para o desenvolvimento da criança, dentro da perspectiva piagetiana e vygostkiana, segundo preceituação contida nos próprios PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais). Cumpre ressaltar que seguir tais orientações representa um imperativo no sentido da consecução dos objetivos educacionais propostos pela própria LDB 9394/96 (Lei de Diretrizes de Base da Educação), bem como do PPP (Projeto Político Pedagógico) de nossa Instituição;
2. O modo como a lista de materiais fora organizada, em momento algum pressupõe juízo de valor institucional no que tange a tratamento particularizado de gênero, tampouco reflete preconceito numa exteriotipação de brincadeiras exclusivas para meninas ou meninos, inclusive, porque a realidade da prática de sala de aula ocorre, consoante anteriormente aludido, numa perspectiva de absoluta interação e envolvimento de todos os alunos, independente da caracterização indentitária de sexo ou gênero, algo que é rotineiro no trabalho desenvolvido em sala de aula;
3. Por fim, destacamos de forma inequívoca, serena e convicta que a organização dos materiais didáticos dispostos em nossa lista reflete, tão somente, uma forma didática de os brinquedos solicitados serem recebidos em quantidades equilibradas, de modo a permitir a variedade necessária. Frisamos ainda que a aquisição dos referidos brinquedos é OPCIONAL, sendo permitido, inclusive, que as famílias ofertem outras opções, visto que o que de fato é relevante para nossa Instituição é garantir o “BRINCAR”, bem como o pleno e integral desenvolvimento de nossas crianças.
Resta-nos acreditar que este mal entendido esteja definitivamente esclarecido, e embora certos disso, renovamos nossa vocação permanente pela qualidade de nossos serviços, presteza de nossas ações e atinência as anseios de nossas famílias e da comunidade em geral, de tal modo que reavaliaremos mecanismos mais eficazes ainda para evitar possíveis interpretações extensivas que não refletem a forma de pensar e menos ainda de agir de nossa Instituição, ratificados por mais de 30 anos de excelência nos serviços.
São Luis (MA), 11 de janeiro de 2016″