Coletivo de mulheres negras de BH lança vídeo denúncia sobre a importância do recorte racial na primeira infância

“Erês e Kurumins: brincar, educar e (r)existir!" é o nome do vídeo lançado pelo Nzinga Coletivo de Mulheres Negras. O produto audiovisual é uma denúncia à falta de políticas públicas focadas na primeira infância, além de ser a uma ferramenta educativa sobre os impactos do recorte racial nas crianças

Como o racismo afeta e prejudica a vida e desenvolvimento de crianças negras, indígenas, quilombolas e de terreiro? Esse é o questionamento que sulea o vídeo-denuncia “Erês e Kurumins: brincar, educar e (r)existir!”, desenvolvido pelo Nzinga Coletivo de Mulheres Negras, organização que há 35 anos  atua no enfrentamento ao racismo em BH.  

O vídeo lançado no último dia 13 de setembro, no canal do youtube do Coletivo, chega em um momento importante de campanha eleitoral, em que as agendas prioritárias e projetos de candidatos estão sendo apresentados à população. Contudo, é perceptível a falta de estratégias e temáticas voltadas ao cuidado da primeira infância nas propostas que estão sendo divulgadas.  

O lançamento do vídeo faz parte das ações do projeto “Primeira Infância no centro: garantindo o pleno desenvolvimento infantil a partir do enfrentamento ao racismo”. Esta é uma iniciativa em desenvolvimento por um grupo articulador composto de 11 organizações nacionais como o Nzinga Coletivo, o Geledés Instituto da Mulher Negra, Porticus Latin America, dentre outras. 

Onde estão as políticas públicas voltadas à primeira infância? 

Para desenvolver as estratégias de incidência local, a primeira ação realizada pelo grupo foi um levantamento sobre as políticas públicas dos municípios, estados e governo federal focadas na primeira infância. Cada organização ficou responsável por fazer essa análise em suas localidades e a partir disso, desenvolver ações de incidência e advocacy. 

Com esse movimento, o Nzinga Coletivo de Mulheres Negras e o grupo articulador,  constatou a falta de políticas públicas voltadas para a primeira infância, recebendo respostas, até o momento do lançamento do vídeo, apenas do governo federal. “Mesmo quando você vai fazer uma busca na internet para saber se existem iniciativas, são poucas as informações que você encontra. E infelizmente, mesmo o retorno que recebemos do governo federal demonstra quão escassas são as políticas voltadas à primeira infância”, destaca Luiza da Iola, educadora social e assistente executiva do Nzinga.

A falta de informações e estratégias, gerou a necessidade do desenvolvimento do vídeo denúncia, para cobrar dos políticos, e entender como os governos estão incidindo nesta pauta. Além do lançamento do vídeo, a organização também desenvolveu uma carta compromisso com a primeira infância que está sendo enviada aos candidatos desta eleição. 

Racismo e Primeira Infância 

“O que o bebê aprende no início da vida tem impactos profundos no futuro. É nessa fase, chamada primeira infância, que o cérebro mais se desenvolve em termos estruturais. São os anos mais ricos para o aprendizado”, destaca um artigo na página da Secretaria Especial do Desenvolvimento Social, do Ministério da Cidadania. Essa frase reforça um fato que já é um consenso entre estudiosos e pesquisadores, de que a primeira infância – momento que compreende o nascimento até os seis anos, ou 72 meses completos -, é uma das fases mais importantes na formação de um ser humano. 

O vídeo denúncia chega para ressaltar a necessidade de olharmos não apenas para esse ciclo, mas de nos atentarmos à primeira infância com uma perspectiva antirracista. A narrativa do filme destaca como o racismo estrutural afeta essas crianças desde o ventre, e como isso se arrasta por toda a vida. Essa realidade é apresentada com relatos de entrevistadas como educadoras, que trabalhavam na rede de ensino e já se depararam com crianças “pintando” o corpo de creme dental para apagar a cor de sua pele. 

“Já vi casos de crianças que queriam trocar de pele, ou lavar a pele até ficar branco, ou até  mesmo arrancar sua pele. E não é porque elas não gostam de ser negras, é porque elas querem evitar a dor da violência racial que é insuportável”, destaca uma das entrevistadas, Larissa Amorim Borges, psicóloga clínica e social, doutora e mestre em psicologia social. O vídeo denúncia também conta com a participação de nomes como Macaé Evaristo, professora e vereadora de Belo Horizonte; a socióloga, professora e coordenadora do Comitê Mineiro de Apoio às Causas Indígenas, Avelin Buniacá Kambiwá; além de psicólogas, educadoras da rede pública e da UFMG, e representantes do Nzinga Coletivo que estão à frente do projeto. 

“Erês e Kurumins: porque a gente acredita que é só juntos que a gente vai poder vencer essas violências raciais cotidiárias que a gente tem enfrentado”, ressalta Benilda Brito, consultora de raça, gênero e diversidade, ativista pela educação rede Malala, consultora da ONU mulheres e ativista do N’zinga Coletivo de Mulheres Negras. 

O vídeo está disponível no canal do youtube do coletivo, para assistir clique aqui. Se quiser acompanhar o trabalho do N’zinga e saber mais sobre as ações do  Projeto “Primeira Infância no centro: garantindo o pleno desenvolvimento infantil a partir do enfrentamento ao racismo”, confira as redes sociais da organização. 

N’zinga Coletivo de Mulheres Negras 

Criado em 1987, N’zinga Coletivo de Mulheres Negras nasceu da vontade coletiva de mulheres mineiras de terem um espaço para discutirem e colocarem em pauta suas necessidades, dores e lutas como mulheres negras. A ideia do coletivo é ser um espaço de enfrentamento aos racismos diários, mas também um espaço de acolhimento para pautas comuns. O N’zinga Coletivo de Mulheres Negras atua na luta contra o racismo, sexismo, LGBTfobia e outras formas de opressão.

Primeira Infância no Centro: garantindo o pleno desenvolvimento infantil a partir do enfrentamento do racismo

O Grupo Articulador do projeto “Primeira Infância no Centro: garantindo o pleno desenvolvimento infantil a partir do enfrentamento do racismo”,  é uma articulação de onze organizações da sociedade civil que atuam em defesa dos direitos das populações negras, quilombolas, indígenas e de terreiros.  O compromisso da iniciativa é o enfrentamento do racismo e do sexismo presentes na sociedade brasileira, desenvolvendo ações de incidência política, formação e advocacy no campo das Políticas de Desenvolvimento da Primeira Infância.

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