Os protestos que se espalharam pelos Estados Unidos por causa da morte de George Floyd –segurança de 46 anos, negro, asfixiado publicamente por um policial na cidade de Minneapolis em 25 de maio– ganharam o mundo. Para além da imensa atenção midiática que o movimento #BlackLivesMatter (#VidasNegrasImportam, no Brasil) recebeu a nível global, temos, na mesma proporção, uma onda de adesão a esses discursos nas redes sociais.
A princípio, o apoio massivo a essas iniciativas pode parecer uma excelente notícia para o movimento –que precisa muito mesmo de visibilidade. O problema é quando a adesão não passa de ostentação vazia de virtudes e acaba atrapalhando quem, de fato, está se articulando para denunciar atos de racismo.
Bom exemplo disso foi a viralização de fotos pretas acompanhadas pela hashtag #blackouttuesday. O objetivo era promover, nas redes sociais, uma espécie de apagão como pausa para reflexão em respeito e solidariedade às vidas negras perdidas. Quem chegava desavisado a essa articulação e incluía outras hashtags como #blacklivesmatter em sua publicação, acabava atrapalhando a busca de notícias sobre as manifestações nas redes, já que cada hashtag tinha um propósito diferente e muito bem pensado.
Como apoiar o movimento de verdade?
Definitivamente, o lugar de fala sobre racismo não é de pessoas brancas, mas a luta antirracista deveria ser de todos –como bem explicou a escritora e ativista norte-americana Angela Davis: “Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.
Apoiar iniciativas contra o racismo na internet é importante, mas as pessoas negras não ganham lá muita coisa se o apoio nas redes vira um fim em si mesmo. Fora da internet é onde devemos atuar, cotidianamente, para derrubar todas as barreiras sociais que ainda são impostas a pessoas não brancas. Aqui, temos um compilado de medidas mais efetivas do que simplesmente mencionar o #BlackLivesMatter no seu Insta.
Aprenda com quem sabe sobre preconceito e lugar de fala
“A gente só aceita debater o racismo quando ele é pautado pelos Estados Unidos. O racismo do Brasil pode seguir matando a vontade” – @emicida pic.twitter.com/4fm4oNxXIR
— Dandara Ramos (@dandaraoramos) June 2, 2020
O que é Local de Fala?
Está Thread vem para tornar nítido a todas as pessoas sobre o que é local de fala. Tudo aqui escrito será baseado no livro “O que é lugar de fala” – Djamila Ribeiro.
— Sher Machado (@transcurecer) May 30, 2020
O protagonismo de pessoas negras em debates (todos, não só sobre racismo) é fundamental. Em debates sobre racismo, não tem cabimento que o protagonismo seja branco
Parabéns, @CNNBrasil por debater racismo com 3 debatedores negros(as). Tá certo! pic.twitter.com/Lh8euYWyzl
— Thiago Amparo (em 🏡) (@thiamparo) June 1, 2020
William Waack é exposto por entrevistada em cobertura de ato. “Quando vejo o William Waack, que foi mandado embora por um episódio de racismo, e hoje debater tanto tempo sobre o racismo. Eu acho que deveríamos também convidar negros para debater no lugar dele”#BlackOutTuesday pic.twitter.com/n01C2a8rhN
— Leo Martins (@OLeoMartins) June 2, 2020
O papel das pessoas brancas no ativismo é de escuta e apoio. Não cabe às pessoas brancas cobrar mobilização de pessoas negras por causas antirracismo, inclusive porque o racismo faz parte da vida de qualquer pessoa não branca, mesmo que ela jamais toque no assunto.
1) Apaguei o tweet sobre o silêncio do Neymar após msgs de integrantes do movimento negro, mostrando q um branco não deve cobrar de um negro sobre pautas racistas.
De fato, não é meu papel cobrar o Neymar sobre isso.
Vou seguir tentando ajudar, aprendendo e corrigindo qd errar.
— Felipe Neto 🇧🇷🏴 (@felipeneto) June 1, 2020
#VidasNegrasImportam ✊🏾✊🏾✊🏾 pic.twitter.com/Sdz4Qt4P8U
— Karol Conka (@Karolconka) June 1, 2020
A cobertura de manifestações antirracistas não deveria, jamais, ter falas racistas … – Veja mais em https://luizasahd.blogosfera.uol.com.br/2020/06/03/como-colaborar-com-o-vidas-negras-importam-sem-silenciar-o-movimento/?cmpid=copiaecola
“A policia deteve rapaz sem camisa, negro, com certa truculência (…) A gente não sabe SE TAVA TENTANDO ROUBAR ALGUÉM (…) Não houve tumulto, então a gente supõe que tenha sido alguém, talvez, querendo BATER CARTEIRA” – Cobertura da Globo News sobre protesto antirracista nos EUA. pic.twitter.com/3l4w9Q2TId
— Cecília Olliveira (@Cecillia) May 31, 2020
Opte por consumir conteúdo feito por pessoas ou organizações que não sejam lideradas apenas por brancos. Isso muda toda a perspectiva e o entendimento das questões raciais
#VidasNegrasImportam: Manifestação contra a violência acontece em frente ao Palácio Guanabara https://t.co/Mp5ffZ5uWk
Foto: Kamila Camillo/Voz das Comunidades pic.twitter.com/cb08Q3nriz
— Voz das Comunidades ✊🏿 (@vozdacomunidade) June 1, 2020
Faz muito tempo que pessoas negras estão divulgando como qualquer pessoa pode ser uma aliada antirracista. A parte das pessoas brancas é bem simples: escutar e cobrar mudanças no entorno
“Como pessoas BRANCAS podem ATUAR NA LUTA ANTI-RACISTA?” – Um vídeo que fizemos no #PapodePreta em 2018, mas você não viu porque o #VidasNegrasImportam não estava em alta. Assiste hoje, então: https://t.co/lL8U5u4l4M
— Maristela Rosa🤞🏾Canal Papo de Preta (@RosaMaristela) June 2, 2020
Não é só uma postagem na rede social! Pense em quantas pessoas pretas você conhece e se relaciona, quantas pessoas pretas existem na sua equipe de trabalho, quantas estão na sua playlist musical…. Você tem consumido arte preta? Você tem se importado REALMENTE com vidas pretas?
— Drik Barbosa (@drikbarbosa) June 2, 2020
O UOL Debate também promoveu uma discussão sobre a luta antirracista no Brasil e nos EUA com pensadores e criadores pretos. Assista aqui: