Como funciona o grupo racista com 25 mil membros que atacou, entre outros, Taís Araújo

Os adeptos da Ku Klux Klan, uma das maiores organizações racistas da história mundial, utilizavam capuzes brancos para não serem identificados. Os grupos neonazistas de agora não precisam gastar panos. Utilizam-se do sigilo da internet. Há apenas 13 ciberdelegacias no Brasil para vasculhar os horrores privados.

por Kiko Nogueira Do DCM

Mas ao mexer com celebridades globais, os criminosos virtuais incentivaram a união da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, do Rio de Janeiro, com delegacias de outros cinco estados brasileiros. O resultado foi a maior operação contra o cyber bulling no país, que desarticulou um grupo racista com 25 mil integrantes.  Entre os feitos, eles agrediram Maju Coutinho, Taís Araújo e Sheron Menezzes.

A teia de ódio foi criada por cinco jovens brasileiros. A comunidade era secreta, tinha até estatuto com prerrogativas como uso de nomes falsos e o trabalho em rede. “Quando a ordem era dada, eles emitiam cerca de três mil injúrias de uma só vez”, disse o delegado Pablo da Costa Sartori, do Rio de Janeiro.

Aqueles que não acatassem as regras eram punidos ou expulsos.

A operação foi coordenada pela polícia carioca a partir das denúncias de Taís Araújo, em outubro do ano passado. Do dia para noite, a página da atriz no facebook foi impregnada por comentários criminosos, como “volta pra senzala”, “teu cabelo é de esfregão”, “macaca”. Taís se mobilizou, a Polícia Federal entrou na jogada, e a civil assumiu as investigações.

Através de intervenção judicial, o facebook teve o sigilo quebrado. Os articuladores do grupo presos são William dos Santos Triste, em Porto Alegre; Pedro Vitor Siqueira da Silva, em São Paulo; Tiago Zanfolin Santos Silva, em Brumado, na Bahia; Gabriel Pietri, no Paraná; e Francisco Pereira da Silva Júnior, em Navegantes, Santa Catarina.

De acordo com o delegado os jovens têm um perfil em comum: “são pessoas humildes, que se uniram com o pensamento tosco de disseminar o ódio e o preconceito”.

Francisco foi preso nesta manhã em Navegantes no supermercado que trabalhava. Não deu nenhuma declaração e será levado ao Rio de Janeiro.

A jornalista Maju Coutinho foi a primeira celebridade atacada pelo grupo, no dia 3 de julho. As postagens tinham comentários no estilo “Só conseguiu emprego no ‘Jornal Nacional’ por causa das cotas”, “Preta imunda”. “Não tenho TV colorida para ficar olhando essa preta não”.

Outro agravante é que nos celulares e computadores dos presos há centenas de vídeos e fotografias de pedofilia, pornografias pesadas com imagens de bebês e crianças de até cinco anos. Essa descoberta acarretará em novos crimes. Eles responderão por injúria, racismo, pedofilia e organização criminosa.

Ao contrário de Taís Araújo, Sheron Menezzes não quis se pronunciar. Seu comentário, em dezembro do ano passado, quando foi vítima de racismo foi exato “Um a um vocês vão atacando e um a um vocês vão sendo identificados”.

Já Taís Araújo se declarou feliz. “Espero que crimes desse tipo, contra qualquer mulher negra, não fiquem impunes”.

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